POEMA

SONETO AO SENHOR CORREIO


Senhor Correio, Senhor Dom Correio,
por favor, por favor, Vossa Excelência
não abra as minhas cartas porque é feio
e tudo o que for feio falta à decência.

Eu leio as suas cartas? Não, não leio.
Se suas cartas lesse era demência.
Senhor Correio, veja se há um meio
de ter um pouco menos de inclemência.

Porque enfim o que escrevo a mim o devo,
Senhor Correio, é meu tudo o que escrevo,
é a tinta expressando as minhas falas.

É qualquer coisa mais que intimidade.
Senhor Correio, sabe que é verdade,
violar minhas cartas é matá-las.


Sidónio Muralha

(«Poemas de Abril» - 1974)

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Poema de Abril! Que escreveria hoje Sidónio Muralha?
Abraços.

samuel disse...

Bela maneira de falar de uma coisa "feia".
Que escreveria sobre as escutas?... :-)))

Abraço.

GR disse...

Um poema tão belo, com palavras tão meigas.
Nem assim, "eles" deixaram de as ler.
Tão actual para os dias de hoje!

Bjs,

GR

Maria disse...

Que grande recado para outros... correios...

Um beijo grande.