POEMA

OS AMIGOS COERENTES


Minha geração
tem os gestos rudes
do semeador
e as mãos calejadas
de quem dá aos sonhos
contornos precisos
dos dois pés na terra,
da quilha que singra,
do arado que rasga,
do rasgo que cria.

Fomos perseguidos
porque a nossa falta
era a lucidez
e a coragem de
apontar os crimes
sem lhes dar perdão,
porque perdoar
é ser conivente
e essa conivência
é igual ao crime.


Sidónio Muralha

(«Poemas de Abril» - 1974)

7 comentários:

poesianopopular disse...

Purinho como água cristalina.
Abraço

Justine disse...

Belo e verdadeiro!

Graciete Rietsch disse...

Exactamente como eu penso. Há crimes imperdoáveis e "a conivência é igual ao crime".
Tantos exemplos temos na nossa História mesmo recente!
Um beijo

samuel disse...

A perseguição nunca acabou.
Os crimes a denunciar, continuam.

Abraço.

Maria disse...

Exactamente!
Belo e lúcido este poema.

Um beijo grande

svasconcelos disse...

A coerência é dos valores mais admiráveis que nos assiste, e que mais dignifica a nossa causa.
beijo

GR disse...

Poesia sempre actual!

Bjs,

GR