O «sonho americano» assume crescentes contornos de pesadelo para um número cada vez maior de pessoas.
Não falo daqueles milhões de pessoas que, vivendo a milhares de quilómetros de distância dos EUA, o que sabem desse «sonho» é o que lhes é dito pelas forças norte-americanas de ocupação ou pelas bombas que lhes caem em cima: falo dos cidadãos norte-americanos, dos que nasceram, vivem e trabalham nos EUA e vêem as suas condições de trabalho e de vida a agravar-se todos os dias.
Eis alguns números:
- o número de desempregados, que aumenta a um ritmo de dezenas de milhares por mês, ultrapassou já os 15 milhões (9,7% segundo o Departamento do Trabalho) - e, desses, 6 milhões estão sem emprego há mais de seis meses;
- a exploração aumenta: no último trimestre de 2009, enquanto a produtividade cresceu 6,9%, o custo do trabalho decresceu 5,9%, ou seja: os trabalhadores produziram muito mais e receberam muito menos;
- o número dos que vivem na rua, em Nova Iorque, ultrapassou os 40 mil - e destes apenas 8 mil têm abrigo em centros de acolhimento (os quais se debatem com dificuldades acrescidas devido aos cortes das subvenções estatais);
- a população prisional continua a crescer: cerca de 25% do total dos presos no mundo encontram-se nas prisões dos EUA; dois terços desses presos são negros e latinos: 1 em cada 15 adultos negros, e 1 em cada 46 hispânicos está na prisão.
Entretanto, cresce a contestação popular a este estado de coisas: no passado dia 4, centenas de milhares de pessoas saíram à rua manifestando-se, em 33 estados, pelo direito à educação e ao emprego.
No decorrer dessas manifestações, jovens estudantes e jovens desempregados juntaram-se nos protestos e exigências, ultrapassando as barreiras da polícia que procurava impedir a junção das manifestações.
Em Baltimore, Maryland, jovens afro-americanos exigiam «empregos, não prisões».
Em Oakland, na Califórnia, onde a manifestação atingiu dimensão assinalável, a polícia carregou violentamente sobre os manifestantes e prendeu mais de 150.
E tudo indica que a luta vai continuar e que um outro dia nacional de luta está desde já em preparação.
Segundo o jovem afro-americano Larry Hales, que foi um dos dirigentes nacionais desta jornada de luta, «a 4 de Março ficou demonstrado o desejo dos jovens em revitalizar um movimento de jovens estudantes e trabalhadores. Nos próximos passos na luta pela educação e pelo emprego, planeamos ir mais longe no espírito de militância que presidiu às acções de 4 de Março».
Registe-se que estas foram as maiores manifestações de massas realizadas nos EUA nas últimas décadas.
E é significativo que elas tenham ocorrido em plena «era Obama»...
(Porquê este post?
Porque, tanto quanto me apercebi, a generalidade dos média dominantes nada (ou pouco) disse sobre o assunto - e é bom que isto se saiba...)
7 comentários:
Mais uma vez obrigada pelo teu post. Há informações que não se difundem na imprensa, ou não se sinalizam devidamente "porque não interessa saber"...
um beijo,
Os escribas do sistema estão bem treinados.
O sonho americano é todos os dias propagandeado pelos "media".
Mas, como diz o poeta
"É preciso avisar toda a gente
É preciso informar, prevenir
Que por cada flor espezinhada
Há milhões de sementes a florir"
Um beijo.
É bom e fundamental.
É bom saber que num país em que a maioria, ou nem conhece outro sistema que não o capitalista, ou tem disso uma visão distorcida e envenenada, num país em que uma boa parte dos cidadãos tem apenas uma vaga ideia de que existe mais mundo... embora não saiba muito bem onde... mesmo num país assim é possível resistir.
Abraço.
É necessário que se saiba. Porque o 'sonho americano' continua na cabeça de muita gente que não vê futuro por aqui... e porque é necessário saber o que são os EUA e como funciona tudo aquilo no que se refere a trabalho, assistência social, direitos humanos e etc.....
Um beijo grande.
é necessário saber. indispensável.
obrigado.Vão-me chegando noticias atravês de familiares, e dá para me aperceber de que o sonho...é só para quem o detém.
abraço do vale
smvasconcelos: eles sabem o que fazem...
Um beijo.
Antuã: e, ao que parece, bem pagos...
Um abraço.
Graciete Rietsch: «é preciso avisar toda a gente/ transmitir este morse de dores/ é preciso, imperioso e urgente/mais flores, mais flores, mais flores»...
Um beijo.
samuel: e é nessa possibilidade de resistir em todo o lado que está... o sonho verdadeiro...
Um abraço.
Maria: informar, é preciso.
Um beijo grande.
duarte: é um sonho cada vez mais reduzido...
Um abraço.
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