POEMA

NÃO NOS DEIXAM CANTAR

Não nos deixam cantar, Robeson
meu canário com asas de águia
meu irmão negro com dentes de pérola,
não nos deixam cantar as nossas canções.
Têm medo, Robeson
medo da aurora, medo de olhar,
medo de ouvir, medo de tocar.
Têm medo de amar,
medo de amar como amou Ferhat, apaixonadamente.
(Decerto que também vocês, irmãos negros,
têm um Ferhat, como é que tu lhe chamas, Robeson?)
Têm medo da semente e da terra,
medo da água que corre,
medo da lembrança.
A mão de um amigo que não deseja
nem desconto nem comissão nem moratória
igual a um pássaro quente
não apertou nunca a sua mão.
Têm medo da esperança, Robeson, medo da esperança!
Têm medo, meu canário com asas de águia,
têm medo das nossas canções, Robeson...

Nazim Hikmet
(Tradução de Rui Caeiro)

5 comentários:

Maria disse...

Pois têm, e é por isso que continuaremos a cantar, sempre...

Um beijo de quase até já

samuel disse...

Eu próprio, aqui no meu "canto"... não é que também já tinha desconfiado disso? :)))
Belo poema!

Abraço

Fernando Samuel disse...

maria e samuel: imaginem a cena: Robeson, a dada altura proibido de cantar nos EUA, fez um espectáculo na fronteira do Canadá, virado para o seu país: e cantou para milhares e milhares de norte-americanos que ali o foram ouvir...

Um beijo e um abraço.

Anónimo disse...

Cantaremos.

Fernando Samuel disse...

pintassilgo:... e venceremos!