POEMA

SONETO IMPERFEITO DA CAMINHADA PERFEITA



Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.

Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
- O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas.

Versos brandos... ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.


Sidónio Muralha

(«Passagem de Nível» - 1942)

5 comentários:

samuel disse...

"e os poetas são os próprios versos dos poemas."

Não é a primeira vez que o digo. Este verso é uma das coisas mais extraordinárias que li...

Abraço.

Maria disse...

Chama-lhe o poeta 'soneto imperfeito', e eu acho que é um soneto perfeito, e beíssimo!

Um beijo grande.

svasconcelos disse...

A poesia como (re) afirmação da LIBERDADE, "sem mordaças, ameaças ou algemas".
Beijo,

Graciete Rietsch disse...

Mais uma recordação do passado, a mesma bandeira de luta.
Um abraço, camarada.

poesianopopular disse...

A poesia é a arma do poeta!
Abraço camarada.