POEMA

DEPOIAMENTO


Deponho no processo do meu crime.
(Sou testemunha
e réu
e vítima
e juiz).
Juro
que havia um muro,
e na face do muro uma palavra a giz.
Merda! - lembro-me bem...
- Crianças... - disse alguém
que ia a passar.
Mas voltei novamente a soletrar
o vocábulo indecente,
e de repente,
como quem adivinha,
numa tristeza já de penitente,
vi que a letra era minha...


Miguel Torga

6 comentários:

svasconcelos disse...

Não sei comentar... o Miguel Torga faz-nos sobressaltar nas palavras e nos conteúdos.Emudece-me. Tamanha é a beleza!...
beijo,

samuel disse...

Absolvido! :-)
Desconcertante...

Abraço.

Moacir Rocha S. Filho disse...

achei o blog interessante. E sobre o post anterior: uma coisa é a religião e outra os homens. As religiões são falhas por que são feitas por homens que são falhos.

CRN disse...

Uma acusação que salpica mais que os "face-oculta" ou todos aqueles processos que nunca o chegam a ser.

Maria disse...

A letra poderia ser de qualquer um de nós...
:)))

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

smvasconcelos: é, de facto, um poeta muito especial...
Um beijo.

samuel: ... e louvado...
Um abraço.

Moacir Filho: Tudo o que é humano é falível...
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Um abraço.

CRN: uma acusação muito directa...
Um abraço.

Maria: sem dúvida...
Um beijo grande.