POEMA

NÃO PASSARÃO


Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!

Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
entre o sangue vertido
e o sonho desfeito.

Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
de traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
que na tua tragédia se redime.

Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
não morre um povo!

Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
as forças que te querem jugular
não poderão passar
sobre a dor infinita desse não
que a terra inteira ouviu
e repetiu:
Não passarão!


Miguel Torga

6 comentários:

svasconcelos disse...

Que lindo!
Sim, a ceara pode arder, mas logo um grão há-de germinar...
beijo,

Maria disse...

Junto a minha voz à da terra!

Um beijo grande

samuel disse...

E é isto que os deixa possessos...

Abraço.

Nelson Ricardo disse...

Leio este poema e não posso deixar de pensar nos povos do Médio Oriente que a juntar à pobreza abjecta e aos políticos locais vendidos e corruptos têm agora de apanhar com saraivadas de mísseis em cima. É um poema de resistência, que retrata o espírito de todos os povos que lutaram contra a opressão

Abraço.

poesianopopular disse...

...e porque não morre um povo, os «passarôes»,não passarão!
Abraço

Fernando Samuel disse...

smvasconcelos: um grão a dizer: não passarão!
Um beijo.

Maria: juntamos.
Um beijo grande.

samuel: e têm razão para isso...
Um abraço.

Nelson Ricardo:de resistência, de esperança, de confiança...
Um abraço.

poesianopopular: porque a luta continua.
Um abraço.