COMENTÁRIOS PARA QUÊ?

Na revista Monde de 12 de Abril de 1935, podia ler-se um editorial, assinado pelo grande escritor Henri Barbusse e intitulado:
«TESTEMUNHO DE GRANDEZA REVOLUCIONÁRIA»
.

Falava de nós, comunistas portugueses, e da nossa luta.
E dizia assim:

«Portugal... País de arvoredo policromado, de vinhedos, de canções... País de padres, e de camponeses esfomeados; de grandes lavradores e de desempregados... País que há nove anos a mão mortífera de um ditador fascista estrangula...
Mas o cristianíssimo ódio de Salazar não consegue amordaçar este país que, um dia, será de novo um jardim da cultura humana.
Expulsa da luz do dia, zumbindo em segredo nos bairros proletários das cidades e nos casebres dos camponeses, elevando-se acusadora perante os juízes ignóbeis, gemendo sob a tortura dos carcereiros, a verdade do futuro vive em Portugal.
Imaginai só estes presos políticos que, arriscando a sua liberdade, a sua saúde e a sua vida, levantaram o estandarte do combate e, estiolando durante anos inteiros, na noite esgotante das enxovias medievais, separados do mundo exterior por uma parede de chumbo, continuam a luta, solidários com os seus irmãos em liberdade.
Uma folha de papel, um lápis, uma pena - que dificuldades para obtê-los! - mas eles encontram estes instrumentos de trabalho e escrevem.
E não são soluços de seres desfalecidos; não são gritos de desespero: os presos políticos de Portugal editam em plena prisão, escritos pelos seus próprios punhos, jornais de combate.
"Jornais escritos por comunistas, para comunistas", se intitulam estes jornais que, ao preço de mil perigos, circulam de cela em cela, de prisão em prisão.
A descoberta dos autores desses jornais - e não é fácil negar-se o que é escrito pelo próprio punho - significa um prolongamento da pena por meses e anos.

A luta dos presos políticos revolucionários nos diferentes países reveste-se, é certo, de formas múltiplas e é rica de exemplos de heroísmo.
Contudo, estes jornais dos presos portugueses constituem documentos únicos na história do movimento revolucionário.»


Para complementar este texto de Henri Barbusse, deixo aos visitantes do Cravo de Abril os títulos de alguns dos jornais que os presos políticos comunistas, iludindo a vigilância dos carcereiros fascistas, escreviam e distribuíam entre si:

«O TRABALHO - dos comunistas em reclusão na Penitenciária de Lisboa»

«BOLETIM INTER-PRISIONAL - Órgão dos presos comunistas do Aljube»

«POTENKIN -Órgão dos presos comunistas ex-marinheiros (Peniche)»

«BOLETIM INTER-PRISIONAL - Órgão da célula comunista da Fortaleza de Peniche»

«PAVEL - Órgão teórico dos jovens comunistas presos em Peniche»



Comentários para quê?

7 comentários:

poesianopopular disse...

E ainda estamos cá para muito mais -se preciso for!
A luta é de gerações, a cada geração as suas tarefas,nós somos o futuro, de todos.
Abraço

Graciete Rietsch disse...

Grande Partido o nosso!!! Por isso os exploradores, que estão ainda a dominar a maior parte do mundo,o odeiam tanto. Viva o PCP! Honrremos com nossa luta todos os que fizeram dessa luta e dos respectivos ideais a sua bandeira de combate.
Beijos.

svasconcelos disse...

Bonita descrição, e relato dos comunistas portugueses!
"A verdade do futuro vivia em Portugal" pela mão de homens e mulheres que se privaram da (própria) liberdade para a resgatar para um povo inteiro.
beijo,

samuel disse...

Isto "enerva" tanta gente...

Abraço.

Maria disse...

De facto, o que há a comentar?
Dizer apenas que o orgulho é tanto...

Um beijo grande

GR disse...

Lemos este texto com muita alegria, emoção e um orgulho profundo.

A Luta Continua!

bjs,

GR

António disse...

O nosso sangue jorra pela Liberdade há muitas décadas.