POEMA

HERÓICAS


XXXIV


(Neste mesmo instante, na Alemanha de Hitler, um condenado à morte caminha para o cepo.»



Tu vais morrer!... Tu vais morrer!...

(E eu para aqui a torcer as mãos,
atado à minha fantasia inútil de poeta!)

Ah! se me deixasses ao menos inventar-te um céu!

Um céu viril com anjos de aço
e nuvens de bandeira,
onde, sentado no frio da lua,
te esperasse o Eterno Sozinho
eleito do povo dos mortos
que dividiu os astros em partes iguais
e encheu o inferno
de silêncio e rosas...

Ah! se me deixasses ao menos inventar-te um céu!

Mas tu sorris como se ouvisses a voz dum pássaro antigo...
E caminhas para o cepo
com o Momento Gelado nos olhos
e os passos duros
de quem já encontrou nos ferros
o instante de amor
que ilumina a eternidade
a escuridão de tudo.

Caminhas para o cepo...

... E eu, para aqui inútil,
a ouvir o frio dos teus passos
nas lágrimas que me caem dos olhos
- irmão que vais morrer.


José Gomes Ferreira

5 comentários:

Maria disse...

Belíssimo! E fico sem palavras...

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

Ele conquistou um céu que chegará depois da sua morte, pois por isso ele lutou.

Um beijo.

samuel disse...

O céu vai ter que ser mesmo aqui...

Abraço.

Fernando Samuel disse...

smvasconcelos: lutar é sempre um bom caminho...
Um beijo.

Maria: um beijo grande.

Graciete Rietsch: um céu... na terra...
Um beijo.

samuel: não há outra hipótese...
Um abraço.

Nelson Ricardo disse...

Aos mártires pelo Mundo Novo está reservado um lugar eterno na memória dos povos.

Um Abraço.