POEMA

INVASÃO

XIV


(Abro o aparelho de rádio e ouço a emissão de Moscovo,
muito abafada, por causa dos vizinhos.)


A voz quente
na boca desta mulher, húmida de bandeiras,
entoa na rádio a apoteose do Futuro
para além do letargo da lucidez dos dias...

Mas tudo em redor
nos brilhos concretos
do cansaço da noite
me insinua um futuro sem esplendor
onde nunca se chega por estradas rectas,
mas só por atalhos
pardacentos de cardos e desvios
a ocultarem-nos a beleza directa do destino...


José Gomes Ferreira

7 comentários:

Justine disse...

Com este pequeno poema, JGF conta-nos a história daquele tempo clandestino.

Op! disse...

É esse o nosso caminho: repleto de cardos, pedras, sobressaltos e abismos. Há apenas que continuar em frente!

samuel disse...

Ouvir essa "voz quente" não era para todos...
O tempo que então se vivia (para os da minha idade) era o de "A verdade é só uma! Rádio Moscovo não fala verdade!"
De que raio me fui lembrar...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Na minha casa também ouvíamos a Rádio Moscovo. Baixinho, muito baixinho,por causa dos vizinhos. Mas foi assim que eu me fui tornando comunista.

Um abraço grande.

Maria disse...

Apesar do caminho se fazer por atalhos, cheios de pedras e cardos, havemos de 'chegar ao fim da estrada, ao som desta canção!'

Um beijo grande.

Nelson Ricardo disse...

É um árduo caminho, pleno de dores para quem o trilha. Mas o destino final vale muito a pena.

Fernando Samuel disse...

Justine: história que é improtante termos sempre presente.
Um beijo.

Membro do Povo: sempre, sempre em frente.
Um abraço.

samuel: as coisas de que a gente se lembra!...
Um abraço.

Graciete Rietsch: e na minha casa também...
Um beijo.

Maria: ao SOL desta canção, se não te importas...
Um beijo grande.

Nelson Ricardo: se vale!...
Um abraço.