POEMA

HERÓICAS

XXXVII


(Sermão.)


Homem:
preso pela sombra a todas as pedras,
preso pelos olhos à liberdade das aves,
preso pelo corpo ao devorar das raízes,
preso pela sede aos cadáveres das ninfas nas fontes.

Olha bem de frente para as algemas,
asas pesadas de frio,
e através de pântanos e de rochas
esburacadas de caveira,
leva o mundo de rastos
a que te prendem todas as grilhetas
num tinir de ferrugem de ecos.

Homem livre que caminhas
amarrado ao Carro da Morte
até ao Silêncio Sem Astros.


José Gomes Ferreira

5 comentários:

samuel disse...

Espantosamente, por vezes parece mais fácil arrastar o mundo... do que rebentar as grilhetas.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Fantástico poema, Embora amarrado ao carro da Morte, o homem livre continua a caminhada para o seu objectivo. Mesmo não o atingindo, mesmo silenciado e incógnito, ele é um verdadeiro herói.Foi assim que eu entendi o poema.

Tanta luta anónima que levará ao Mundo Novo.

Um beijo.

Nelson Ricardo disse...

Palavras que apelam à luta pela concretização da Liberdade.

Um Abraço.

Fernando Samuel disse...

samuel: ou arrastar o mundo rebentando as grilhetas...
Um abraço.

Graciete Rietsch: mesmo não o atingindo... em vida...
Um beijo.

Nelson Ricardo: à luta pelo Futuro...
Um abraço.

Maria disse...

E o Homem há-de levar... tenho a certeza!

Um beijo grande.