HERÓICAS
V
(Guerra Civil em Espanha: Sofro por sentir inúteis as armas das palavras.)
A alma arde-me o corpo. Posso lá dormir! Levanto-me.
Outro cigarro. Abro a janela. Pasmo...
Oh! que luar suspenso! Oh! que mulher sem corpo! Oh! tanta alma inútil!
E eu para aqui sozinho com um fantasma a bradar-me nos olhos:
Irmãos! Irmãos que combateis contra todos os Destinos Mutilados
nas árvores, nas ruas, nas esquinas,
nas teias de aranha, nos esgotos,
nas covas, nas trincheiras, no outro mundo,
nos patíbulos, na lua, nas estrelas!
Irmãos! eis o que eu posso dar à vossa luta:
um cinzeiro com dez pontas de cigarros
e uma noite de insónia insubmissa...
Que rancor de vergonha!
(e a esta hora
na planície dos voos parados nos olhos
os mortos apodrecem
- sonâmbulos de trapos...)
José Gomes Ferreira
7 comentários:
Deste-lhes a tua luta com os teus poemas que são uma arma eterna.
Um beijo,camarada.
Incomensurável!
Abraço
Mário
Incomensurável!
Abraço
Mário
Mas as palavras José Gomes ferreira não tinham nada de inúteis e foram (são) bonitas armas de luta!
beijo,
Que força magnífica, apesar da dor da impotência!
A força das palavras nos dedos do Zé Gomes...
Um beijo grande.
Quantas vezes, tomar consciência da realidade é já um enorme passo...
Abraço.
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