A representação actual dos líderes do PSD e do PS em torno da revisão da Constituição é a repetição das sete representações que antecederam as sete anteriores revisões da Lei Fundamental do País.
Mudaram as caras, claro (onde hoje vemos Coelho e Sócrates, vimos antes Sá Carneiro e Soares, Balsemão e Soares, Cavaco e Soares, Guterres e Barroso...) mas não mudou o guião das representações: ontem como hoje, assistimos à mesma farsa em que PS e PSD começam por representar o papel de inimigos inconciliáveis, com o PS a rejeitar «liminarmente» a proposta de revisão apresentada pelo PSD... tudo acabando em abraços e beijos na boca - e com a Constituição cada vez mais pobre de Abril e cada vez mais rica de 1933.
E assim se preparam para fazer novamente.
A proposta do PSD, desenhando o ansiado regresso definitivo ao passado, tem três enormes vantagens (pelo menos):
1 - apontando para o impossível (por agora...) faz com que o possível seja mais substancial;
2 - proporciona ao PS a sua habitual representação de «esquerda», com a qual tem vindo a iludir muito boa (e má) gente;
3 - dá uma poderosa ajuda à política de direita: no momento actual, desviando as atenções da dramática situação e que vivem milhões de portugueses; no futuro, alimentando a farsa da «alternativa» com a qual PS e PSD (bem acolitados pelos médias dominantes) têm vindo a ludribiar a maioria do eleitorado.
E assim foi, igualmente, nas anteriores sete revisões - todas, insista-se, concretizadas por obra e graça do tradicional serviço combinado PS/PSD.
Mais do mesmo é, portanto, o que está à vista.
Aqui ficam, como exemplo, alguns títulos de jornais dos últimos dias:
«Socialistas recusam liminarmente as propostas do PSD»
«PSD continua a acreditar num entendimento com o PS»
«Socialistas nem querem ouvir falar do projecto do PSD»
«O PSD garante que o PS vai acabar por aceitar a sua proposta»
«PS avisa que só discute a revisão constitucional se for forçado pelo PSD»
«PSD desvaloriza críticas do PS e lembra que os socialistas acabam sempre por aceitar o debate»
«PS anuncia a criação de um grupo de trabalho para acompanhar o debate»
Ou seja: a farsa vai continuar.
11 comentários:
O tango continua...
Um Abraço.
Não poderia ser mais claro.
Abraço.
As mesmas p. velhas de sempre.
Mas a LUTA vai continuar!
Um beijo grande.
São pantomineiros, mas o papel deles é disfarçar que são iguaizinhos.
um abraço
é mais uma frente onde temos que lutar.
A farsa continua de facto.
Aqueles sublinhados teus deviam tirar as ilusões a muita gente.
Grande análise fizeste.
Um beijo.
Nelson Ricardo: os tanguistas não param...
Um abraço.
samuel: e no entanto...
Um abraço.
Maria: só a luta lhes arrancará as máscaras...
Um beijo grande.
Alex Campos: e tem-no conseguido, ao longo de 34 anos...
Um abraço.
Antuã: aí está a grande conclusão a tirar.
Um abraço.
Graciete Rietsch: continua e o desenlace adivinha-se mau...
Um beijo.
«Começaram as cedências dos dois maiores partidos em relação à revisão constitucional proposta pelo PSD. O Conselho Nacional do PSD deixou cair duas alterações polémicas: os limites à dissolução do Parlamento pelo Presidente e a possibilidade de autodissolução do Parlamento. E o PS, depois de recusar as alterações profundas propostas, mostra-se disposto a discutir "aperfeiçoamentos" à lei fundamental mais tarde, depois das eleições presidenciais de 2011.
A abertura foi manifestada ao PÚBLICO por um ministro e dirigente do PS (elemento do núcleo duro de José Sócrates), mas apenas "num ambiente político menos crispado", ou seja, após as eleições presidenciais e o debate sobre o Orçamento do Estado.»
In Público, online 23 de Julho de 2009
Anónimo: sem surpresas...
È preciso não esquecer o serviçal Vitor Constâncio, que se deu ao penoso trabalho de ser secretário-geral dessa agremiação de invertebrados que se chama ps, pelo exactíssimo tempo em que foi necessário cozinhar com a direita uma das mais descaracterizadoras revisões constitucionais. São todos bons rapazes e Don Corleone estaria, seguramente, muito orgulhoso deles.
Concordo plenamente com a análise, especialmente esses três pontos. É só ajudas...
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