POEMA

INCLANDESTINIDADE


Eu jamais movi um dedo na clandestinidade.
Mas militante de facto sou.

Por acaso até nasci
numa grande e próspera colónia.

Depus flores na estátua do sr. António Enes
recitei versos de Camões num tal «dia da raça»
e cheguei a cantar uma marcha chamada «A Portuguesa».

Cresci.
Minhas raízes também cresceram
e tornei-me um subversivo na genuína ilegalidade.

Foi assim que eu subversivamente
clandestinizei o governo
ultramarino português.

Foi assim!


José Craveirinha

10 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico poema. Foi assim...
Abraço

Maria disse...

Quando as raízes crescem e se toma consciência!
Foi assim, é assim.
Muito bonito!

Um beijo grande

Anónimo disse...

Tomara todos os que não moveram um dedo na clandestinidade e após ela, adquirissem esta consciência e fizessem crescer as raízes...

beijo, amigo
ausenda

samuel disse...

Uma boa raiz pode operar coisas prodigiosas...

Ana Camarra disse...

Pois quase que tenho vontade de escrever um poema, a dizer que foi assim que uma neta de industriais, nascida num meio protegido, com umas costelas aventureiras, um pai comunista na clandestinidade, um tio da Legião, tomou consciência, das suas raizes, cresceu e se fez militante.

beijos

Anónimo disse...

...E foi muito bem, poeta!
Nós passaremos o teu testemunho aos vindoiros!
abraço

Anónimo disse...

E foi assim que muita gente se libertou.

Anónimo disse...

Como a língua e a poesia em português se valorizou na luta contra o fascismo e o colonialismo português. Coisas de dialéctica.
Este José Craveirinha anda muito esquecido... Obrigado por o lembrares. Um abraço

Fernando Samuel disse...

ludo rex: foi assim... é assim...
Um abraço.

maria: nas raízes está o segredo...
Um beijo grande.

ausenda: nunca é tarde para ir às raizes...
Um beijo.

samuel: a força está nas raízes...
Um abraço.

ana camarra: e por que é que não escreves?; vá lá, avança para isso.
Um beijo amigo.

poesianopopular: é esse o nosso dever.
m abraço.

antuã: e é assim que muita gente se libertará...
Um abraço.

do zambujal: anda esquecidíssimo...
Um abraço.

Justine disse...

Espantoso poema!É assim!!!