NO CORREDOR DA MORTE

O caso é conhecido e, no essencial, resume-se em poucas palavras.
Mumia Abu-Jamal era jornalista de rádio em Filadélfia. Tinha um programa de rádio de grande audiência - «A Voz dos que Não Têm Voz» - no qual denunciava a violência policial, especialmente a violência com carácter racista, e os dramas da população pobre. Além disso, tinha sido, na sua juventude, membro do Movimento dos Panteras Negras...
Tudo razões para constar - como constava - da lista dos «perigosos» elaborada pelo FBI.
Em 9 de Dezembro de 1981, na sequência de uma provocação montada pela polícia, foi preso, acusado de ter morto um polícia.
Foi submetido a um julgamento cheio de irregularidades: múltiplos atropelos processuais; um juíz conhecido pelo seu reaccionarismo e pelo prazer sádico de produzir condenações à morte e que publicamente expressou a sua hostilidade para com o réu; um júri donde previamente foram excluídos 11 negros indesejáveis e que ficou composto por 10 brancos e 2 negros; das testemunhas presenciais, umas pura e simplesmente foram ameaçadas pela polícia se testemunhassem a verdade (e acabaram por não depor); as outras, sob chantagens as mais soezes, prestaram os depoiamentos que a polícia lhes ensinou - e destas as que, posteriormente, denunciaram o que se passara, foram presas; etc, etc, etc.
Assim, em Julho de 1982, Mumia Abu-Jamal foi condenado à morte - como estava previsto...

De então para cá, o seu advogado interpôs vários recursos e conseguiu que, em Março deste ano, um tribunal de Filadélfia anulasse a condenação à morte. Contudo, e porque o mesmo tribunal reiterou a culpa, a sentença foi automaticamente transformada em prisão perpétua (podendo novamente transformar-se em condenação á morte se a acusação recorrer).
Entretanto, em Julho, o advogado de Mumia Abu-Jamal recorreu para o Supremo pedindo que seja organizado um novo processo judicial e realizado um novo julgamento.
A resposta chegou agora: o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o pedido.

Mumia Abu-Jamal está preso há 27 anos.
É, hoje, provavelmente, o preso político com mais tempo de prisão em todo o mundo.
Continua no corredor da morte de uma prisão do país da democracia, da liberdade e dos direitos humanos.

6 comentários:

Chalana disse...

Já pra não falar nos "5 de Miami" - cinco cidadãos cubanos presos nos USA sem culpa nem acusação formada. Único crime? Serem cidadãos cubanos!

Crixus disse...

A verdadeira terra da liberdade mas para os criminosos que provocam crises mundiais e sofrimentos indiziveis aos povos de todo o mundo.

Anónimo disse...

Acontecesse isso em paragens menos democráticas e não faltaria o coro da indignação dos indignados do costume. Como é no paraíso da Democracia basta assobiar para o ar que a coisa há-de passar.
Até quando...?
Abraço camarada

samuel disse...

Pergunto-me, qundo acordará aquele povo!... Quando conseguirá enxergar alguma coisa para além da ração diária de droga e mentira televisiva... mas pensando bem, quem sou eu para perguntar?... Isto se olhar bem para o que se passa aqui mesmo!

Abraço

Anónimo disse...

Aquilo é o país das liberdades das mafias.

Fernando Samuel disse...

chalana: para aquelas bandas, ser cidadão cubano é coisa passível de prisão...
um abraço.

crixus: P país da liberdade... deles...
Um abraço.

aristides: os dois pesos/duas medidas que são imagem de marca dos média dominantes...
Um abraço camarada.

samuel: pois... nós por cá... isto é...
um abraço.

antuã: as liberdades made in usa...
Um abraço.