POEMA

DIA AZIAGO


3

(Há um riso de manicómio racionado
poluindo as fontes frescas e os vales
embaciando os olhos vivos da noite
murchando o tenro das folhas verdes
e as vergonhas cerradinhas das virgens...
em Sexta-feira 13.)

Só a criança que nasceu sem pai
abriu a garganta ao mundo para chorar
- não o choro fininho de quem
agradece à vida a luz dos olhos -.

Só os homens das estepes ressequidas ou geladas
e os que nas selvas vivem como macacos
caçaram, beberam, fornicaram
na doce ilusão dos que amam
entregues ao Sol, à água e ao fogo

- Cantaram
inocentes de Sexta-feira 13!


Francisco José Tenreiro

(«Coração em África»)

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Deste poema julgo depreender que o progresso que deveria trazer ao ser humano mais felicidade, afinal foi açambarcado por meia dúzia e resultou em fome, guerra, escravidão e desigualdade para a maior parte da humanidade.

Um beijo.

samuel disse...

Hoje já não há isolamento que resulte... nem em "doce ilusão"...

Abraço.

Nelson Ricardo disse...

As doces ilusões são estraçalhadas por um quotidiano bárbaro, a única opção é lutá-lo e vencê-lo.

Um Abraço.