CORAÇÃO EM ÁFRICA
(3)
De coração em África em noites de vigília escutando o olho mágico do rádio
e a rouquidão sentimento das inarmonias de Armstrong.
De coração em África em todas as poesias gregárias ou escolares que zombam
e zumbem sob as folhas de couve da indiferença
mas que têm a beleza das rodas de crianças com papagaios garridos
e jogos de galinha branca vai até França
que cantam as volutas dos seiso e das coxas das negras e mulatas
de olhos rubros como carvões verdes acesos.
De coração em África trilho estas ruas nevoentas da cidade
de África «no coração e um ritmo de be bop be nos lábios
enquanto que à minha volta se sussurra
olha o preto (que bom) olha um negro (óptimo)
olha um mulato (tanto faz) olha um moreno (ridículo)
e procuro no horizonte cerrado da beira-mar
cheio de maresias distantes de areias distantes
com silhuetas de coqueiros conversando baixinho à brisa da tarde.
Francisco José Tenreiro
(«Coração em África»)
2 comentários:
Sempre mais belo!!!!!!!
Um beijo.
Já não viveu o suficiente para ser tratado, ainda mais ridiculamente, de "afro-qualquer-coisa"... :-)
Abraço.
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