POEMA

DIFICULDADE DE GOVERNAR


1
Todos os dias os ministros dizem ao povo
como é difícil governar. Sem os ministros
o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
mais nenhuma mulher podia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra nunca mais haveria guerra.
E atrever-se-ia a nascer o sol
sem autorização do Fuhrer?
Não é nada provável e, se o fosse,
nasceria por certo fora do lugar.

2
É também difícil, ao que nos é dito,
dirigir uma fábrica. Sem o patrão
as paredes cairiam
e as máquinas enchiam-se de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
ele nunca chegaria ao campo sem
as palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
senão ele, lhes poderia falar na existência de arados?
E que seria da propriedade rural sem o lavrador?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio
onde já havia batatas.

3
Se governar fosse fácil
não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos
como o do Fuhrer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
e se o camponês soubesse distinguir um campo
de uma forma para tortas,
não haveria necessidade de patrões
nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida
que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4
Ou será que
governar só é assim tão difícil porque
a exploração e a mentira
são coisas que custam a aprender?


Brecht

7 comentários:

Ana Camarra disse...

Pois este já conhecia, até já soube de cor, devia ter uns 7 anos...
A chatice é estar assim tão actual, é só substituir o Fuher...

beijos

samuel disse...

"A exploração e a mentira
são coisas que custam a aprender..." mas como eles aprenderam bem!...

Abraço.

anamar disse...

Belisssimo!
Não conhecia!
:))

Anónimo disse...

Substituímos o Fuher e dá 489 820...
É Obra!

Abraço

Maria disse...

Mais uma vez Brecht, tão actual...

Um beijo grande

Justine disse...

Ah Brecht, que falta tu nos fazes...

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: o Brecht tem esta «mania» da «actualidade»...
Um beijo.

samuel: mestres não lhes faltam...
Um abraço.

anamar: ainda bem que gostaste.
Um beijo amigo.

Ludus Rex: com umas pequenas substituições parece ter sido escrito hoje...
Um abraço.

Maria: ele é «assim»...
Um beijo grande.

Justine: mas... está cá...
Um beijo.