POEMA




Era mão de obra.
Ocupavam uma praça de Chicago
com o coração na boca
por oito horas de trabalho.

De repente na terra prometida
rebenta uma bomba
(só) anunciada nos jornais.
De repente a polícia dispara
de repente a mão de obra também
de repente morreram dez ou pouco mais.
O resto da gente fugiu...
Na rua silente
ficaram os mortos e os cães.
Depois julgaram e enforcaram
quatro terroristas de coração na boca.

seis anos depois
foram absolvidos de terem sido enforcados.

Afinal
tanto faz hoje dizer que foram cinco ou vinte e cinco
foi o usual
o retado ritual
de quem pode inventar uma bomba
anunciá-la nos jornais
e matar logo uns tantos
e julgar e enforcar depois
quatro escolhidos
que queriam oito horas de trabalho.

Passados cem anos eles dizem
que foi um erro...
Nós
aqui em Portugal
temos a certeza
infinitesimal
duma vadia bandeira vermelha a flutuar.
Nós cá estaremos
contra eles
até isto mudar.


Manuel Videira

4 comentários:

samuel disse...

Não é muito... é só até isto mudar.

Ana Camarra disse...

Parece que está mais ou menos na mesma....
Bom poema! Não conhecia.

Obrigado

Beijo Grande

Maria disse...

Não conhecia este poema. E o final é muito bom!

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

samuel: este «só» que a língua portuguesa nos dá...
Um abraço.

Ana camarra: este tipo de coisas «só» muda quando mudar tudo...
Um beijo grande.

Maria: este é o único poema que conheço deste poeta.
Um beijo grande.