POEMA

ENTERRO DO AGITADOR NO CAIXÃO DE ZINCO


Aqui, neste caixão de zinco,
jaz um homem morto.
Ou as suas pernas e a cabeça
ou ainda menos
ou nada, pois ele era
um agitador.

Foi reconhecido como causa primeira do Mal.
À vala com ele! O melhor é
que só a mulher o acompanhe à esterqueira,
pois quem quer que o acompanhe
fica também marcado.

Isso aí no caixão de zinco
instigou-vos a muitas coisas:
a comer a fartar
e a morar debaixo de telha
e a alimentar os filhos
e a exigir o salário até ao último vintém
e à solidariedade com todos
os oprimidos vossos iguais e
a pensar.

Isso aí no caixão de zinco disse
que era preciso um outro sistema de produção
e que vós, as massas de milhões do trabalho,
tínheis que tomar conta do mando.
E que antes disso nada melhoraria para vós.

E porque isso que aí está no caixão de zinco disse isso
por isso acabou no caixão de zinco e vai ser atirado à cova
como um agitador que vos incitou.
E quem quer que fale de comer a fartar
e quem quer de entre vós que queira morar debaixo de telha
e quem quer de entre vós que exija o último vintém do salário
e quem quer de entre vós que queira sustentar os filhos
e quem quer que pense e se declare solidário
com todos os que são oprimidos,
esse virá, desde agora até à eternidade,
a acabar no caixão de zinco como esse,
como um agitador, e será atirado à vala.


Brecht

5 comentários:

Anónimo disse...

"A morte não é verdade quando se cumpriu (bem) a obra da vida"- José Martí
beijo,
Sílvia

Justine disse...

Aí Brecht, como tu os conheces bem, os assassinos dos "agitadores"...

Maria disse...

Cada vez gosto mais de Brecht...

Um beijo grande

samuel disse...

Será... ou não!...

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Silvia: Marti bem o sabia...
Um beijo.

justine: ó se conhece!...
Um beijo.

Maria: e eu também.
Um beijo grande.

samuel: um dia destes deixará de ser...
Um abraço.