POEMA

VIAGEM


I

Capitão, aqui estou.

Comigo, a bagagem:
No saco de marujo trago um naco de pão
dentro do peito a ânsia da viagem.

II

Venho de longe, sabes, de tão longe
de países que não existem nos mapas.
Percorri rotas, cortei a nado os mares mais temerosos
e cheguei
cansada e desperta da viagem.

Aqui estou
inteira.

Na intimidade do chão, da comida saboreada,
porque não é apenas comida
mas um pretexto para fazer gestos em comum
Para sentir o prazer de os repetir - os repartir

Até quando...
prefiro não pensar

Por agora
fico-me
no imenso prazer de partilhar.

III

Lá fora
no frio da noite sei que a lua nasceu
sei que no cais há barcos que esperam
e gente, como nós, a aguardar a hora impossível da partida.


Maria Eugénia Cunhal

9 comentários:

samuel disse...

Que coisa bonita!

Abraço.

Maria disse...

Tão belo, e arrepiante ao mesmo tempo...

Um beijo grande

Mar Arável disse...

Muito belo

Justine disse...

Que grande poetisa a Maria Eugénia é!
(e como me tem faltado esta leitura diária, este alimento)
Um beijo, até sábado?

duarte disse...

Por isso vou partilhando...até o futuro chegar....
belo!
abraço do vale

movimento das palavras armadas disse...

E assim, tão próximo do gesto, o poesia irrompe!

http://movimentodaspalavrasarmadas.blogspot.com/

Ana Camarra disse...

Maravilhoso!

GR disse...

Tenho lido os jornais cubanos e venezuelanos. A situação está muito má, mas, há quem não baixe os braços e lute.
Obama disse em Moscovo, “o único presidente constitucional nas Honduras é Manuel Zelaya”.
Diz de uma maneira e manda fazer de outra. O Bush era um assassino burro, este é igual, mais inteligente, mas mais perigoso.
A Luta Continua!

Bjs

GR

GR disse...

Desculpem,
Quando se vem de uma reunião e a cabeça ainda está longe…sai asneira.
Peço imensa desculpa, mas este comentário como já deu para ver, não é daqui.
Noutro lado devo ter colocado isto,

Gosto muito da poesia da Eugénia Cunhal
É pena não se reeditarem os seus livros.

Bjs,

GR