POEMA

RESOLUÇÃO DOS COMUNEIROS


Considerando a nossa debilidade,
fazeis leis para nos avassalar.
No futuro as leis não serão cumpridas
considerando que não queremos continuar ser vassalos.

Considerando pois que
nos ameaçais com fuzis e canhões,
concordámos em temer, mais do que à morte,
esta vida amarga que levamos.

Considerando que ficamos com fome
enquanto permitimos que nos roubem,
vamos comprovar que só as montras
no separam do bom pão que nos falta.

Considerando pois que
nos ameaçais com fuzis e canhões,
concordámos em temer, mais do que à morte,
esta vida amarga que levamos.

Considerando que estão aqui a casas
enquanto nos deixais sem abrigo,
concordámos em mudar-nos para elas
porque não estamos cómodos nestes casebres.

Considerando pois que
nos ameaçais com fuzis e canhões,
concordámos em temer, mais do que à morte,
esta vida amarga que levamos.

Considerando que existe demasiado carvão
enquanto nós, sem carvão, gelamos,
concordámos em ir buscá-lo agora mesmo
considerando que assim podemos aquecer-nos.

Considerando pois que
nos ameaçais com fuzis e canhões,
concordámos em temer, mais do que à morte,
a vida amarga que levamos.

Considerando que não conseguis
oferecer-nos um bom salário,
tomámos a nosso cargo as fábricas
considerando que sem vós podemos bastar-nos.

Considerando pois que
nos ameaçais com fuzis e canhões,
concordámos em temer, mais do que à morte,
a vida amarga que levamos.

Considerando que não confiamos
no que sempre promete o governo,
acordámos, sob nossa própria direcção,
tornar a nossa vida feliz a partir deste momento.

Considerando que só obedeceis aos canhões
- e não conseguis compreender outra linguagem -
vemo-nos obrigados, e isso sim, valerá a pena,
a assestar contra vós os canhões!


Brecht

5 comentários:

Maria disse...

Excelente Brecht! Que força!
E este eu não conhecia...
Ele sabia o caminho...

Um beijo grande

Ana Camarra disse...

Pronto é incontornavél!

beijos

filipe disse...

Espantoso, como tudo está tão certo em Brecht - e tão actual.
Ao contrário, lamentavelmente, de tanto que, no presente, está tão equivocado - e ultrapassado...
Um abraço.

samuel disse...

Tudo devidamente tomado em consideração, que outra coisa poderíamos fazer?

Magnífico!

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Maria: ó se sabia!...
Um beijo grande.

Ana Camarra: e é que é mesmo.
Um beijo.

filipe: ora aí está!...
Um abraço.

samuel: não há nada como considerar as coisas...
Um abraço.