POEMA

«DE CADA VEZ QUE UM GOVERNO...»


De cada vez que um governo necessita de segredos,
por segurança do Estado, ou para melhor êxito
de negociações internacionais, é o mesmo que negar,
como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
a liberdade.

Sempre que um povo aceita que o seu governo,
ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
invoque a lei e a ordem para calar alguém,
como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
nega-se
a liberdade.

Porque, se há algum segredo na vida pública,
que todos não podem saber, é porque alguém,
sem saber, é o preço do negócio feito.
E, se há uma ordem e uma lei que não inclua
mesmo que seja o último dos asnos ou dos pulhas
e o seu direito a ser como nasceu ou fizeram,
a liberdade
é uma farsa
a segurança
é uma farsa
a ordem
é uma farsa,
não há nada que não seja uma farsa,
a mesma farsa representada sempre
desde que o mundo é mundo,
por aqueles que se arrogam ser
empresários dos outros e nem pagam
decentemente senão aos maus actores.


Jorge de Sena

5 comentários:

samuel disse...

Política arrogante, criminosa e apimbalhada...

Abraço

Maria disse...

Actualíssimo!
Podia ter sido escrito ontem... e no entanto!

Um beijo grande

Fernando Samuel disse...

samuel: muito ao jeito dos seus executantes...
Um abraço.

Maria: podia, sem dúvida...
Um beijo grande.

Ana Camarra disse...

Pois nunca o Jorge de Sena pensou que que tinha escrito era o retrato fiel da governação portuguesa do sec XXI....

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: os Poetas andam sempre à frente dos acontecimentos...
Um beijo.