CORAÇÃO EM ÁFRICA
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Chora coração meu estala coração meu enternece-te meu coração
de uma só vez (oh órgão feminino do homem)
de uma só vez para que possa pensar contigo em África
na esperança de que para o ano vem a monção torrencial
que alagará os campos ressequidos pela amargura da metralha
e adubados pela cal dos ossos de Taszlitzki
na esperança de que o Sol há-de prenhar as espigas de trigo
para os meninos viciados
e levará milho às cabanas destelhadas do último rincão da Terra
distribuirá o pão o vinho e o azeite pelos alísios;
na esperança de que às entranhas hiantes de um menino antípoda
haja sempre uma túlipa de leite ou uma vaca de queijo
que lhe mitigue a sede de existência.
Deixa-me coração louco
deixa-me acreditar no grito de esperança lançado pela paleta viva de Rivera
e pelos oceanos de ciclones frescos das odes de Neruda;
deixa-me acreditar que do desespero másculo de Picasso
sairão pombas
que como nuvens voarão os céus do mundo de coração em África.
Francisco José Tenreiro
(Com «Coração em África» o Cravo de Abril encerra o ciclo de poesia dedicado a Francisco José Tenreiro - um dos grandes poetas da língua portuguesa, nascido em São Tomé, em 20 de Janeiro de 1921 e falecido em Lisboa no dia 31 de Dezembro de 1963)
5 comentários:
Obrigada por (m)o teres apresentado. beijo,
Foi uma grande descoberta.
Obrigado!
Abraço.
O ciclo termina maravilhosamento com este fantástico poema cheio de dor mas também de esperança. Obrigada camarada por me teres dado a conhecer este grande poeta.
Um beijo.
Este poema é fantástico. Tenho de ir procurar este poeta, agora sei onde ir...
Obrigada, Fernando Samuel.
Amanhã logo vejo quem se lhe segue...
Um beijo grande.
smcasconcelos: viva a poesia!
Um beijo.
samuel: um abraço.
Graciete Rietsch: obrigado e até ao próximo Poeta...
Um beijo
Maria: ao ciclo FJT seguir-se-ão dois ou três poemas «avulsos» por razões (creio) facilmente explicáveis...
Um beijo grande.
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