POEMA

MAMÃO TAMBÉM PAPAIA


Mamão
também papaia.

Que sabor é o teu mamão
também papaia
que andas na boca dos pobres
e és delícia matinal
do Senhor Administrador?

Qual a tua sedução
mamão também papaia?

Será esse teu ar estranho
de seres melão e nasceres nas árvores
ou esse rosto da mama de mulher preta
recordando ao Senhor Administrador aquela
cujo seio se abriu em filhos mulatos
brincando pelas traseiras da Casa Grande?

Que força é a tua
mamão também papaia?

Será porque alivias o rotundo ventre
do Senhor Administrador
e soltando a barriga do Senhor Administrador
libertas a neura e o sorriso
do Senhor Administrador
deixando-o mais macio e de olhos parados
para o dia de sol e quentura do Senhor?

Oh! mamão também papaia
na boca de pobres e de ricos
de pretos de brancos e de mulatos
fruto democrático da minha ilha!


Francisco José Tenreiro

(«Coração em África»)

5 comentários:

Justine disse...

Que sarcasmo, mas também que ternura, neste poema. Cada vez estou a gostar mais de Francisco José Tenreiro.
Obrigada, FS:))

Maria disse...

Começo a não ter palavras para falar dos poemas do FJT que, insisto, me deste a conhecer!
Obrigada.

Um beijo grande.

samuel disse...

Que gozo fino...

Abraço.

Nelson Ricardo disse...

Belo poema.

Um Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Mamão também Papaia é o fruto do amor e da luta que há-de derrotar os senhores Administradores.
Tão lindo!!!

Um beijo.