POEMA

EIS O QUE ME DISSERAM


Os campos dão pedras, as vinhas estiolam,
as aldeias dão párias emigrando em porões.

Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje;
não deixes para amanhã o quebrar do silêncio,
meter a foice no trigo sazonado,
carregar no botão, soltar a tempestade.

Quebra a solidão com o sol matinal
que aponta a claridade sobre as frondes.

As cidades dão fumo, queimam a amizade,
esmagam a consciência, distribuem o crepúsculo.

Um pequeno descuido, nova fuga de tempo,
o espelho transforma-te em velhice - perderás a vida,
pálido, encolhido, no fundo das caves.

É mais tarde do que pensas!
É difícil agora deste fruto ácido
conseguir raízes, flores e perfume.

Não deixes para amanhã o grito necessário,
o enforcamento sumário do agente opressor,
o tributo para a máquina de alargar horizontes...

Eis o que me disseram!


Egito Gonçalves

3 comentários:

samuel disse...

E disseram muito bem!
E o poeta ouviu e contou.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

A revolução tem que se retomar já mas não só com os maravilhosos cravos.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

samuel: fez o que lhe competia...
Um abraço.

Graciete Rietsch: também mas não só com os cravos...
Um beijo.