POEMA

APROXIMAÇÕES


Procuro o exorcismo entre os vocábulos
nesta hora em que as ruas são varridas
por ventos de demência e agonia
que queimam as entranhas do amor.

Procuro os monstros cujos corpos travem
as balas que farão nascer a luz;
e Orlando, Susana, outros amigos
a quem telegrafar a boa nova.

Procuro a grua imensa que erguerá
a pedra que esmagou os nossos lábios;
e um vestido para a tua festa
em dia grande - risos e bandeiras.

Procuro a lima firme que permita
às nossas unhas aguçar o fio
e um azul de céu, limpo de chuva,
para que nele se crave a nossa estrela.

Procuro o calendário que assinale
o dia, o mês, a limpa madrugada...


Egito Gonçalves

4 comentários:

samuel disse...

O poeta ainda viveu para ter, em Abril, um vislumbre do dia que se seguirá a essa limpa madrugada... quando chegar.

Abraço.

Maria disse...

Essa limpa madrugada vai voltar. Tenho a certeza!

Um beijo grande.

GR disse...

“Nesta hora em que as ruas são varridas/por ventos de demência e agonia”

A História repete-se!


BJS,

GR

Graciete Rietsch disse...

O Egito viveu esse dia mas cedo se desvaneceu a esperança . A sua morte já aconteceu em plena contra revolução.

Um beijo.