POEMA

A PROPÓSITO DO NATAL


Após o bem conhecido episódio da Estrela do Oriente
o colérico Herodes gritou aos seus sicários:
«Matem as crianças;
matem todas as criancinhas!»
Redigiu uma proclamação bilingue: judeu e latim,
e como gostava muito de provérbios, declamou:
«Mais vale prevenir do que remediar!»

Os sicários dispersaram em todas as direcções;
contrataram auxiliares
e sem perda de tempo iniciaram a matança
de que falam os livros da especialidade.

Várias espadas partiram com o uso excessivo;
durante algum tempo os cofres dos armeiros
receberam o sorriso das fortunas.

Apesar disso
nada serviu a Herodes o saber de ofício:
como bem se recordam a Criança escapou.
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Hoje Herodes empregaria armas modernas:
radar, cães-robots, espiões magnéticos,
aviões de pesquisa meteorológica...
E por certo a Criança uma vez mais
cresceria saudável e robusta.

Herodes voltaria a não compreender nada.
Mas estaria seguro de si aos microfones
e os directores de cemitérios enviariam
belas mensagens e flores de parabéns.


Egito Gonçalves

4 comentários:

Justine disse...

Violentíssimo, este poema de E.G., e ao mesmo tempo cheio de esperança: a tal criança que nunca será morta!

samuel disse...

Esta "Criança" não morrerá! Não faz parte do seu código genético...

Abraço.

Maria disse...

E a criança continuará a crescer: saudável e robusta!
Grande grande poema do Egito.

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

E esta criança são todos os que não desistem da Luta e que destruirão Herodes.

Um beijo.