POEMA

OS VEGETANTES


Continuam aqui
roendo as unhas!

Substituem as unhas por poemas
(ou cafés, futebol, anedotário)
e estilhaçam espelhos que na luz
ao seu devolvem a cruel imagem.

Vidrado limo o rosto
de rugas sem memória
assistem à vida como um filme:
disparar sobre a tela é proibido
e além do mais inútil.

Curvam ao solo os ombros
escorjados; curvam-nos para
duradoiras urtigas, seixos
sem horizonte, epitáfios
de lama, dezembros, poeira fria.

Se chovem as esperanças não acorrem
a apanhá-las na boca ao ar aberto.
Tijolo articulado a língua balbucia
«É a vida!», Sementes violadas
não germinam.

Em vão os bombardeiam os oráculos
com agulhas de sangue. Nada tentam
para dar vida à fala que utilizam,
ao país do cansaço que entre dentes
ressacam.

E fazem do amor essa triste humidade,
um delíquio formal logo amortalhado.

São dóceis, cibernéticos,
dia a dia premiados
de alguns gramas a mais
no chumbo do pescoço.


Egito Gonçalves

6 comentários:

samuel disse...

São aos milhões... infelizmente... e tanto que custa mudar um, um pouco que seja!

Abraço.

samuel disse...

... e gosto do cabeçalho novo. :-)

GR disse...

Não conhecia este poema.
Na verdade, são tantos...

BJS,

GR

Graciete Rietsch disse...

São os conformados. Infelizmente são tantos e é tão difícil tirá-los da apatia resignada em que vivem!!!!!!

Um beijo.

Maria disse...

Despertar consciências é URGENTE!

Um beijo grande.

Fernando Samuel disse...

samuel: está longe o dia, mas quando despertarem todos...
Um abraço.

GR: tantos e belos...
Um beijo.

Graciete Rietsch: dificílimo... mas temos que ir insistindo.
Um beijo.

Maria: é determinante.
Um beijo grande.