POEMA

CANÇÃO DO MESTIÇO


Mestiço!

Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando a cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito um alma grande
uma alma feita de adição
como 1 e 1 são 2.

Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
- mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
mas eu não me danei...
e muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor!...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro.

Pois é...


Francisco José Tenreiro

(«Ilha de Nome Santo»)

8 comentários:

GR disse...

A diferença reside no respeito e dignidade que cada um terá de ter perante si próprio, olhando para os outros de forma igual. Só assim as diversas cores tornam-se tão lindas, como um arco-íris.

Bjs,

GR

ká História disse...

branco, negro, mulato, índio!!!! cores diferentes!!! mentes diferentes!!!!
Mas... por dentro somos todos iguais...
Todos nós viemos e vamos para o mesmo lugar!!!!
Então, por que tanta diferença????

Maria disse...

Belíssimo!
Parece que ouvi a gargalhada livre que ele soltou!

Um beijo grande. E um cravo de Maio.

Fernando Samuel disse...

GR: É isso...
Um beijo.

Ká História: pergunta pertinente...
(Obrigado pela visita e pelo comentário)

Maria: e ouviste mesmo (eu também ouvi..)
Um beijo grande de Abril e Maio.

Graciete Rietsch disse...

Todos diferentes todos iguais, mas mesmo iguais. Belíssimo poema.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

Graciete Rietsch: na minha opinião é um dos mais belos poemas de FJT.
Um beijo.

Nelson Ricardo disse...

Infelizmente ainda há quem pense que as pessoas devem ser arregimentadas pela cor da pele. Só a Luta vence a regressão social e política.

Um Abraço.

Fernando Samuel disse...

Nelson Ricardo: a luta é sempre a solução...
Um abraço.