POEMA

AMOSTRA SEM VALOR


Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para o infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


António Gedeão

8 comentários:

duarte disse...

micro-cosmos de infindáveis mistérios.
abraço do vale

Maria disse...

Angústias de poeta?

Um beijo grande.

GR disse...

Um bom retrato aos que pensam que o centro do mundo é o nosso "eu". Porém, nada somos e nada se faz sem o “nós”.
Mais um grandioso poema.

Bjs,

GR

Graciete Rietsch disse...

Importante é o nosso eu integrado num nós que não contrarie a nossa individualidade. Um eu que conjuntamente com o nós caminhe em direcção a um outro futuro. Um eu sem cedências, mas com convicções.
É assim que eu interpreto o poema de Gedeão, que me recorda um outro de que transcrevo esta quadra
"Canta, canta. amigo canta
Vem cantar a nossa canção
Tu sozinho não és nada
Juntos temos o mundo na mão"

Um grande abraço.

samuel disse...

Estamos num período de nebulosas bastante carregadas.

Abraço.

poesianopopular disse...

Encaixar palavras que fazem versos que dizem tanto - é só para alguns!
Tantas vezes que eu transcrevo estes dois versos, "tu sózinho não és nada"
"juntos temos o mundo na mão"
uma verdade incontornável, e que muitos teimam em não querer ver!
Abraço

Nelson Ricardo disse...

Belas palavras. Por muito insignificantes e imperfeitos que possamos ser, «nós» também contamos. Também somos humanidade, também somos «universo».

Um Abraço.

CRN disse...

Enorme universo.

Saudações

Mário