POEMA

CARNE VIVA


Aconchego-me nos andrajos. Procuro
(inútil) não tiritar de frio.
A vida é longa e fria. Um longo e frio muro
a marginar, ao longo, um longo e frio rio.

Aconchego-me nos andrajos. Puxo. Repuxo.
Estendo os olhos, implorativos, à caridade.
Perto, em confortáveis silogismos de luxo,
capitalistas da Verdade.


António Gedeão

5 comentários:

Graciete Rietsch disse...

O poeta Gedeão era um grande observador da sociedade. Fala-se muito, com aparente extrema humanidade! Mas a acção? Os andrajos lá continuam.

Um beijo.

Justine disse...

A ironia dura e verdadeira de Gedeão!

Maria disse...

Esta realidade ainda dói!

Um beijo grande.

GR disse...

Lindo poema!
Retrata a triste realidade deste nosso país.

Bjs,

GR

samuel disse...

Há sempre alguns por perto.

Abraço.