O texto que se segue, retirado da Utopia, de Thomas Morus, foi-me enviado há dias por correio electrónico.
Trata-se, como constatarão, de um texto de grande actualidade, não obstante ter sido escrito no início do século XVI.
Publicando-o hoje, deixo em aberto a possibilidade de voltar, um dia destes, a falar deste homem notável que, na sua Utopia, considerava que «a causa de todos os sofrimentos do povo é a propriedade privada»; e que «a destruição da propriedade privada é o único meio de assegurar a felicidade geral».
«Não será um governo injusto e ingrato quando desperdiça ricas recompensas com os nobres (como são chamados), com joalheiros e com outros que não trabalham, mas que vivem apenas da lisonja ou do fornecimento de prazeres inúteis?
E será justo um governo ignorar o bem-estar de agricultores, carvoeiros, criados, cocheiros e ferreiros, sem os quais a comunidade não poderia existir de todo?
Depois de os seus melhores anos terem sido consumidos pelo trabalho e de já estarem desgastados pela idade e pela enfermidade, ainda estão sem um pataco, e o Estado, mal agradecido, inconsciente dos seus muitos serviços, recompensa-os com nada, a não ser uma morte miserável.
Além disso, os ricos tentam constantemente diminuir algo nos salários deploráveis dos pobres por meio de fraudes privadas, e até de leis públicas.
Pagar tão pouco a homens que merecem o melhor do Estado é, em si, injusto, porém isso é tornado "justo" legalmente, através da publicação de uma lei.
Assim, quando eu sopeso na minha mente todos os outros Estados que florescem hoje - que Deus me ajude! - não consigo descobrir nada a não ser uma conspiração dos ricos, que perseguem o seu próprio engrandecimento sob o nome e o título de Comunidade.
São eles que inventam meios e maneiras de manterem em segurança o que adquiriram injustamente e de disporem do trabalho árduo dos pobres, tão barato quanto possível, e de oprimi-los.
Quando estes esquemas dos ricos se tornam estabelecidos pelo governo, que devia proteger os pobres tanto quanto os ricos, tornam-se a lei.
Com uma ganância insaciável, estes homens cruéis dividem entre si os bens que seriam suficientes para todos.»
9 comentários:
Velhinho, poisa ali na estante.
E tão actual, como dizes. Acho que o vou reler.
Um beijo grande
Absolutamente fantástico!
Irei roubá-lo, um dia destes...
Abraço.
Excelente!
Devia pedir-se a este "jornalista" para escrever mais e ver se se conseguia arranar para ele uma coluna semanal... sei lá à 3ª no DN em vez daquele que lá debita... mas se calhar só um jornal que sai às 5ª lhe daria guarida.
Abraço
Maravilhoso!
Tenho que ir procurá-lo.
Um Abraço
Perfeitamente actual. Afinal foi executado porquê?
Um beijo.
Incisivo... passaram séculos e a história parece ter siderado nos mesmos valores (ou na falta deles...).Obrigada pela partilha.
beijo,
Há uns anos o então 1º ministro Cavaco Silva, disse que esse texto da "Utopia" era do Tomas Mann...fartaram-se da "malhar" no homem,mas o facto é que a política de direita com ele,deu passos de gigante!
Saúde
Maria: esse é um dos que devem ser relidos de quando em quando.
Um beijo grande.
samuel: força.
Um abraço.
do zambujal: aí está uma óptima ideia...
Um abraço.
Hilário; vale a pena.
Um abraço.
Graciete Rietsch: pela sua dignidade.
Um beijo.
smvasconcelos: comum a estes dois tempos: a exploração do homem pelo homem...
Um beijo.
Curioso do Mundo: mais precisamente o Cavaco disse que uma vez tinha lido um livro: a utopia do Thomas Mann...
Um abraço.
in temporal.
abraço do vale
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