A REPRESENTAÇÃO CONTINUA

Retomo o título do texto de ontem para referir uma outra encenação recorrente na vida política nacional: o espectáculo do nascimento de um ex.

Também neste caso estamos perante uma representação repetitiva: o ex acabado de nascer repete tudo o que disseram os ex que o antecederam; por seu lado, os média dominantes repetem tudo o que disseram sobre o anterior ex.

Assim, sempre que um militante do PCP deixa de o ser e passa a integrar a família dos ex, é certo e sabido que... temos notícia! - e ao recém-chegado ex são oferecidas páginas e páginas do precioso espaço desses paladinos da liberdade de informação e de expressão e de opinião que são os jornais de referência.

Se o ex escreve um livro, então... não se fala noutra coisa: é o livro; é a apresentação do livro; é o apresentador do livro; é a presença de x, y e z na cerimónia, eu sei lá.
Quanto ao conteúdo essencial do livro, não há nada que enganar: é o mesmo conteúdo do anterior livro do anterior ex: a perseguição, e a vitimização, e a perseguição, e o delito de opinião, e a perseguição, e a vitimização, e a perseguição, e o delito de opinião, e a perseguição.
E, é claro, a perseguição...

Com isto tudo, o ex, mal acaba de nascer e solta os primeiros vagidos, fica a saber, pelos média dominantes, que possui qualidades, capacidades, virtualidades, competências, valências e inteligências que jamais julgou possuir.
E, extasiado com a inesperada novidade, nem tem tempo para se interrogar sobre a razão pela qual os média dominantes demoraram tanto tempo a descobrir-lhe a genialidade e andaram durante décadas a tratá-lo... como um comunista.

7 comentários:

Maria disse...

Mais um ex que não surpreende. Nem o comportamento dos media sobre o dito. E é mais um livro que NÃO vou comprar, tenho a sensação que não traz nada de novo... (ainda que trouxesse...)

Um beijo grande.

MR disse...

O sacanómetro é um instrumento de medida muito necessário. Tal como o pulhímetro.

Graciete Rietsch disse...

Não há nada como ser ex para ter tratamento extraordinário. Ex ministro, ex director, ex presidente, ex administrador.... então se for ex comunista nem se fala. Mas estes últimos ex ràpidamente mostram o seu carácter.

Um beijo.

samuel disse...

O que é "triste" é que embora os ex acabados de nascer sejam muito "queridos e fofos", assim que passam umas semanas transformam-se em trastes que já não interessam a ninguém.
A menos que saibam vender-se muito bem... que é uma coisa que todos querem, mas nem sempre conseguem.

Abraço.

Antonio Lains Galamba disse...

é exactamente por serem dessa fibra que são EX! cá dentro o tecido é doutro tear! um grande abraço

o castendo disse...

Desculpem lá mas estão a falar de quem? (está visto que ando a ler poucos jornais...)

Fernando Samuel disse...

Maria: são tão repetitivos...
Um beijo grande.

MR: aí estão dois instrumentos que urge criar...
Um abraço.

Graciete Rietsch: mostram o carácter logo que decidem ser ex...
Um beijo.

samuel: «a cadela não pode alimentar tantos cachorros»...
Um abraço.

Antonio Lains Galamba: é a chamada fibra ex...
Um abraço.

o castendo: olha que não é preciso leres muitos: basta um: expresso, dn, público...
Um abraço.