POEMA

ROMANCE DE SAM MÀRINHA


Sam Màrinha
a que menina foi no norte
chegou naquele navio à ilha.

Risadas brancas
e goles de champanhe!

À hora do espalmadoiro
os moços do comércio
passaram de gravatas garridas.
O monhé chegou na porta
e limpou o suor
ao lenço di seda que importou do Japão!

Ai!
Aquela que chegou na ilha
como uma risada branca
está fechando a carinha à terra.

Braços pendentemente tristes
só os olhinhos
estão pulando pra lá da fortaleza
querendo ver a Europa!...


Francisco José Tenreiro

(«Ilha de Nome Santo»)

5 comentários:

Nelson Ricardo disse...

Tempos em que a burguesia colonial arrastava o proletariado da colónias. Agora já não existem colónias, mas continua o colonialismo.

Maria disse...

A caminho da libertação total...

Um beijo grande. De Maio florido.

Graciete Rietsch disse...

Será que a menina não gostou do que viu e sentiu desgosto ao observar o sofrimento dos colonos enquanto ela bebia champanhe? Foi assim que entendi o poema. Não sei se estou certa.

Um beijo camarada.

samuel disse...

Não há risada de menina que apague a tristeza funda da injustiça. Só a justiça!

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Nelson Ricardo: o colonialismo «democrático»...
Um abraço.

Maria e Graciete Rietsch: «em Romance de Sam Márinha, depara-se-nos a assimilada que foi a Portugal e com essa viagem se tornou ainda mais alienada em relação à própria raça. A assimilação da cultura europeia fez dela uma estranha ao seu meio, que ela passa a desprezar de uma forma ainda mais radical» . (desculpem a transcrição longa)
Beijos de Abril e Maio.

samuel: a justiça tem tudo...
Um abraço.