FÁBRICA
Oh, a poesia de tudo o que é geométrico
e perfeito,
a beleza nova dos maquinismos,
a força secreta das peças
sob o contacto frio e liso dos metais,
a segura confiança
do saber-se que é assim e assim exactamente,
sem lugar a enganos,
tudo matemático e harmónico,
sem nenhum imprevisto, sem nenhuma aventura,
como na cabeça do engenheiro.
Os operários têm nos músculos, de cor,
os movimentos dia a dia repetidos:
é como se fossem da sua natureza,
longe de toda a vontade e de todo o pensamento,
como se os metais fossem carne do corpo
e as veias se abrissem
àquela vida estranha, dura, implacável
das máquinas.
Os motores de tantos mil cavalos
alinhados e seguros de si,
seguros do seu poder;
as articulações subtis das bielas,
o enlace justo das engrenagens:
a fábrica, todo um imenso corpo de movimentos
concordantes, dependentes, necessários.
Joaquim Namorado
(«Arquitectura»)
5 comentários:
Máquinas e homens, conjunto necessário que deve funcionar em harmonia, para que todo o ser humano possa libertar-se da exploração.
Um beijo.
Na poesia do Joaquim Namorado pode ler-se a esperança de que a tecnologia liberte o trabalhador, em vez de oprimi-lo em prol de outro. Essa esperança só se concretiza com o socialismo.
Graciete Rietsch: é isso.
Um beijo.
Nelson Ricardo: e é de socialismo que o poeta nos fala...
Um abraço.
A fábrica - máquina que, um dia, nos há-de libertar. Connosco a manejá-la, pois então.
Um beijo grande.
Maria: a classe operária é que é...
Um beijo grande.
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