POEMA DA MANHÃ CLARA
O grito das sirenes
rasgou o silêncio da manhã clara...
E foi como se a vida acordasse
na cidade adormecida:
as ruas encheram-se de movimento,
o céu encheu-se de asas
e o rio de velas!
As ruas encheram-se de movimento,
do vai-vem dos que vão para as oficinas,
dos pregões cantados nas esquinas,
do estrépito dos motores...
E nas fábricas,
as máquinas,
monstros de potências adormecidas,
foram arrancadas à sua inércia,
que se desmancha num espreguiçamento,
e se desfaz, depois,
no ritmo acelerado dos volantes.
O céu encheu-se de asas
e o rio de velas...
Nos portos,
atracam os navios vindos de longe,
de todos os horizontes,
entre os guinchos das roldanas
e a vozearia das tripulações à manobra;
e os guindastes giram lentamente
- gigantes de braços de aço
levam e trazem
com ar despreocupado,
os fardos mais pesados
aos porões;
os vapores de hélices potentes
deixam lentamente os cais,
e, manchando o céu
com o fumo pesado das chaminés,
perdem-se no nevoeiro da barra...
O grito das sirenes
rasgou o silêncio da manhã clara...
um ritmo novo
acordou a cidade adormecida.
Ritmo que se grita
nas alavancas que se movem,
nos êmbolos que chocam,
nos martelos que retinem;
ritmo mecânico, compassado,
das hélices dos motores;
ritmo vertiginoso, alucinante,
dominante, dos volantes;
ritmo novo dos corações,
na canção ardente do trabalho!
Ritmo de máquinas,
de alavancas e de braços.
- - Ritmo novo da manhã clara!
Joaquim Namorado
(«Arquitectura»)
8 comentários:
Vou deixar aqui um excerto de uma entrevista a ROMEU CORREIA onde se aborda JOAQUIM NAMORADO.
"Pois o Namorado, durante alguns números, publicou pensamentos do Karl Marx mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. E um dia aparece na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele". "
Um abraço grande.
E no meio de toda esta actividade fervente... nem um mistério, nem um milagre, nem uma aparição...
Tudo à força do braço e da inteligência!
Abraço.
Que venham muitas manhãs como esta.
beijo,
E este o ritmo das manhãs claras do nosso Futuro!
Um beijo grande.
Só mais um pequeno comentário.E a manhã clara chegou. Mas os abutres encarregam-se de adevorar.
Um beijo.
E percebe-se que na base de todo esse buliço da civilização está o trabalhador.
A manhã é dele, porque é ele que a faz.
Parabéns ao Cravo de Abril! É hoje, não é?!o aniversário do blogue...
:)))))))))))))
beijo
Graciete Rietsch: outro dos que a PIDE «vigiava» era um tal «José Salinas»...
um beijo.
samuel: homens apenas...
Um abraço.
smvasconcelos: até que tudo seja MANHÃ CLARA.
Um beijo.
Marai: e lá chegaremos, mais tarde ou mais cedo...
Um beijo grande.
Graciete Rietsch: mas nós recuperá-la-emos...
Um beijo.
Nelson Ricardo: mais precisamente o operário (a sua classe).
Um abraço.
smvasconcelos: é mesmo no dia 25.
De qualquer maneira, OBRIGADO.
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