Às terças-feiras, infalivelmente, Mário Soares ocupa toda uma página do Diário de Notícias com um texto denso, compacto, cerrado, em regra num português sofrível, e que só com infinita paciência se lê até ao fim.
Haja paciência!...
Nessas homilias semanais, Soares fala de tudo, mas tendo sempre como pano de fundo a defesa e o elogio do capitalismo.
Não desse «capitalismo estúpido», que só faz disparates - o maior dos quais é gerar crises que põem em perigo a sua própria existência... - mas do «capitalismo ético», do capitalismo democrático, o que explora, sim, mas em liberdade plena.
Em liberdade plena porquê?: porque assegura aos capitalistas a liberdade de explorar os trabalhadores e garante aos trabalhadores a liberdade de serem explorados pelos capitalistas...
Esse pano de fundo que enquadra as homilias semanais de Soares é feito de duas peças criteriosamente seleccionadas:
1 - Obama - actual representante máximo do imperialismo norte-americano - que Soares apresenta como o supra-sumo do «capitalismo ético»; e
2 - a política de direita, de que Soares é pai e mãe e padrinho...
Percebe-se o objectivo de Soares : não há como um Obama «democrático», «ético», quiçá de «esquerda», para fortalecer o capitalismo internacional e, assim, fortalecer o capitalismo lusitano e a sua política de direita - quer ela seja praticada pelo PS, pelo PSD, ou pelos dois de braço dado com o CDS atrelado.
É claro que Soares prefere que seja o PS a praticar essa política - tanto mais que, como temos visto, os governos PS são sempre os que levam a política de direita mais à direita... - mas se for o PSD, tudo bem na mesma: o que interessa mesmo é defender a tal «liberdade plena» e assegurar os interesses supremos do grande capital.
Daí o elogio hoje feito por Soares ao Congresso do PSD e ao novo líder laranja.
Congresso que, congratula-se Soares, «terminou em festa e unidade»; que «marcou uma viragem importante na orientação política do PSD, agora dirigido por Passos Coelho», o qual, nos «dois discursos sensatos e inteligentes que fez, se revelou não só muito hábil, politicamente, mas seguro de si e sabendo o que quer e sem pressas...»
Ora o que Passos Coelho quer é o mesmo que Soares quer: liquidar tudo o que ainda nos resta da Revolução de Abril. E ambos sabem que o instrumento mais eficaz para alcançar tal objectivo é a política de direita.
Assim sendo, é fácil de perceber este elogio embevecido do velho líder da «esquerda» ao jovem líder da direita- ao fim e ao cabo as dua faces da mesma moeda chamada política de direita.
8 comentários:
Mas ninguém na direita consegue bater o Soares como o seu grande ideólogo.
Já nos idos de 75 o grande trauma de Sá Carneiro, supostamente o "guru" da direita, era o Soares ser o eleito e o homem de confiançado imperialismo americano.
Um abraço
Olha que retrato bem feito!
Abraço.
Só de ouvir falar em Mário Soares fico enjoado.
Completamente de acordo.
São no fundamental com dizes e bem as duas faces da mesma moeda, mas de uma moeda que já não corre... que teve o seu tempo mas está desactualizada.
Um abraço.
O MS sempre gostou muito da 'unidade' dele... e pode ser que o Coelho vá colher qualquer coisinha no campo (não quero chamar seara) do PS. Veremos depois se muda o discurso.
Um beijo grande.
Não consigo ouvir falar de Mário Soares, ou de ouvi-lo só, ou lê-lo sem sentir uma náusea que me deixa doente. Apesar disso, Ou por isso mesmo, achei brilhante este teu "post".
Um beijo.
Fui a banhos. Perdi qualquer coisa na praia. Estranha sensação esta quando, ao passar por aqui, recordei essa sensação.
...
alex campos: e com a grande vantagem de o fazer em nome da «esquerda»...
Um abraço.
samuel: mas (sempre) incompleto...
Um abraço.
Pintassilgo: e eu também...
Um abraço.
joão l.henrique: uma moeda velha mas perigosa...
Um abraço.
Maria: eles todos têm uma grande capacidade de «mudar» de discurso ficando a dizer o mesmo...
Um beijo grande.
Graciete Rietsch: é um ser repelente.
Um beijo.
MR: por que terá sido?...
Um abraço,
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