UMA CONQUISTA DE ABRIL

«SARAMAGO, A LUTA CONTINUA!»: gritavam muitas pessoas, hoje, no Cemitério do Alto de São João.
Algumas dessa pessoas, levantavam o braço, não de punho fechado, como é hábito, mas empunhando um livro: A Viagem do Elefante, Caim, Ensaio sobre a Cegueira, Memorial do Convento, Levantado do Chão...
E essa foi, a meu ver, a mais expressiva homenagem feita ao Prémio Nobel da Literatura - e certamente aquela que mais lhe agradaria.

Era gente de Abril que ali estava.
(Falo da maioria das pessoas, porque também por lá andava quem nada tem a ver com Abril, antes pelo contrário...).
Na verdade, só gente de Abril sabe gritar assim. Só gente de Abril grita de livros na mão...

José Saramago disse um dia, falando dos seus livros: «Nada ou quase nada do que fiz depois do 25 de Abril podia ter sido feito antes».

É verdade.
Por isso, a Obra de José Saramago é, também ela, uma conquista de Abril.

11 comentários:

do Zambujal disse...

Palavras para hoje!
Das poucas que há que dizer, hoje!

Grande abraço

João Henrique disse...

Saramago, os seus livros e o povo.
Um quadro do 25 de Abril.
Um abraço.

GR disse...

Segui pela televisão, saltando os canais, para nada perder.
Assisti a alguns momentos muito bonitos, como os muitos jovens que levantavam livros ou como os cravos que se erguiam no meio de tanta gente.
O momento mais comovente foi no cemitério, onde a palavra de ordem «SARAMAGO, A LUTA CONTINUA!» foi tão contagiante (talvez até fosse sentida) que uma locutora repetiu-a três vezes com voz embargada, acompanhando o coro.
Os escritores não morrem!

Bjs,

GR

poesianopopular disse...

Partiu o HOMEM ficou a obra, que lhe prolongará a vida, e o irá manter entre nós, na luta que lhe prometemos continuar!
Abraço

Graciete Rietsch disse...

Não vamos esquecer Saramago. Para isso temos que caminhar na vida como os heróis dos seus livros, o Povo, que não vem na História, mas que faz a História.
Espero que as pessoas,em especial a juventude, entendam e não esqueçam o quanto Saramago ensinou.

Um beijo.

svasconcelos disse...

Exacto, Fernando Samuel! A obra de Saramago é uma enorme conquista de Abril!! ( e mesmo assim, depois de Abril, viu, pelo menos uma das suas obras ser censurada...).
Grande Saramago!, Abril e o nosso colectivo!
beijo

Antuã disse...

Levantar-nos-emos do chão.

samuel disse...

Irreversível!

Abraço.

Maria disse...

Sem dúvida alguma!
E que Viva Saramago!

Um beijo grande.

Medronheiro disse...

Vai ao nosso lado.

Marília Gonçalves disse...

AMIGOS e Leitores
DO HOMEM, do ESCRITOR, do ACTIVISTA COERENTE E HUMANO

por motivos de saúde não escrevi ainda o que sinto sobre a perda terrível de um Companheiro de Luta de quantos se batem por justiça e por um Mundo Melhor
Mas para Homenagear SARAMAGO, militante, escritor, homem que não desistiu e que apenas a doença venceu (todos somos humanos) será sempre dia! Assim que a saúde mo permita, prestarei a Saramago com o meu sentir e pensar a homenagem respeitosa e admirativa que me merece
Como acima referimos nosso amigo, Portugal ficou mais pobre, e com Portugal também o Mundo, porque Saramago internacionalista era um escritor Universal
com a minha mais profunda e respeitosa memória
Marília Gonçalves

bondade rima com esquerda
e como dizia o Ary dos Santos: nós repartimos o pão, não temos o pão guardado
foi um homem bom que perdemos com Saramago, que repartiu o pão do seu pensar por quem o quis ler
ficamos indubitavelmente muito mais pobres
Até sempre Amigo, até ao folhear de cada página de teus livros onde sempre te encontraremos de pé e igual a ti mesmo
permaneces assim para sempre vivo e entre nós!

Marília Gonçalves

Amigos

Não posso calar-me diante da atrocidade, da ausência do Presidente da República de Portugal, à cerimónia de despedida a José Saramago que não só foi o imenso escritor que todos conhecemos, como trouxe a Portugal o Prémio Nobel, o único que provavelmente nos vai ficar,
já que o do PR Egas Moniz, tem tido muitas vozes contra e para que por desumano tal prémio seja retirado.
o Sr Presidente da República de Portugal esquece suas funções ao serviço de Portugal e de seu Povo
e esta ausência é um grito de desrespeito não só pelo valoroso escritor, como pela Língua Portuguesa e Pelo Povo de Portugal!
Tomamos acta de seu horripilante gesto e pela parte que me toca, pelo desrespeito que denota, V.E. NÃO FAZ FALTA NENHUMA? nesse adeus sentido que os patriotas fazem ao seu Escritor
Sem mais as acções ficam com quem as pratica quer sejam mesquinhas, quer grandiosa!aqui encontramo-nos face às birras dum presidente! com uma tremenda falta de chá em pequeno, quem sabe, a água do Poço de Boliqueime não se prestaria a tal infusão

Marília Gonçalves



Não me Peçam Razões…

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in “Os Poemas Possíveis