POEMA

ESCOPRO DE VIDRO


Estou aqui construindo o novo dia
com uma expressão tão branda e descuidada
que dir-se-ia
não estar fazendo nada.
E, contudo, estou aqui construindo o novo dia.

Porque o dia constrói-se; não se espera.
Não é sol que deflagre num improviso de luz.
É um orfeão de vozes surdas, um arfar de troncos nus,
o erguer, a uma só voz, dos remos da galera.

Cantando entre os dentes
um refrão anidro
abro linhas quentes
com um escopro de vidro.
Abro linhas quentes
sem tremer a mão,
com um escopro de vidro
de alta precisão.


António Gedeão

5 comentários:

Graciete Rietsch disse...

O Físico e o Social. Mais umavez granda Gedeão.
Beijos.

samuel disse...

E assim, cantando entre dentes e com os escopros possíveis, se fez tanta coisa!

Abraço.

Maria disse...

Os dias constroem-se, como se constrói o futuro. A escropo de vidro, passo a passo, degrau a degrau.

Um beijo grande.

Justine disse...

Magnífico poeta, gosto de TODOS os poemas dele...

Fernando Samuel disse...

Graciete Reitesch: sempre o Grande Gedeão...
Um beijo.

samuel: lentamente mas faz-se...
Um abraço.

Maria: com muita luta...
Um beijo grande

Justine: já somos dois...
Um beijo.