POEMA

AMADOR SEM COISA AMADA


Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.


António Gedeão

4 comentários:

samuel disse...

Nunca se chega a profissional daquilo que realmente se ama...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Eu acho que Gedeão foi mesmo profissional da vida ou da existência como ele lhe chama. Nunca foi um indiferente pois traduziu o protesto perante a injustiça em maravilhosos poemas.
Para além disso foi um óptimo professor e um cientista.
Gedeão viveu msmo e continua vivo atrvés da sua poesia.

Um beijo,camarada.

Nelson Ricardo disse...

Este poema é uma pérola. «Amador sem coisa amada» é um lamento, mas é sinal de que estamos prestes a agarrar com alma o que a vida nos oferece, mantendo férrea as motrizes que movimentam a nossa própria alma.

Um Abraço

svasconcelos disse...

Sempre lindo, e tocante, o Gedeão...:)
Beijo,