POEMA

POEMA DA TERRA ADUBADA


Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é dos limbos das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.


António Gedeão

4 comentários:

samuel disse...

É assim há milhares de anos... e continuará a ser, até que seja mais importante (e tenha o poder) quem trabalha a terra do que quem apenas a possui...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Mais uma vez as preocupações sociais de Gedeão.E ainda a guerra
"aquele monstro que quanto mais come e consome, tanto menos se farta".

Maria disse...

Hoje não tenho palavras para deixar aqui.

Um beijo grande.

Nelson Ricardo disse...

Palavras argutas contra a praga da Guerra.

Um Abraço.