PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão
9 comentários:
Sem conseguir além de: :)))
Lindo!!
beijo
Provavelmente o poema mais conhecido de Gedeão.
Belo!
Um beijo grande.
Adorei!
O sonho é o motor da civilização.
Mário C.
Quem não conhece este maravilhoso poema de Gedeão? Vamos cantá-lo na festinha de fim de ano lectivo da UPP.
Um abraço.
Lindo poema.
Nunca deixemos de ter, esta vontade de Sonhar!
Bj,
GR
Lindo! Mas olha ao ler lembrei-me logo do fecho das escolas!
Abraço...
Memória viva
Que bem que o Manel Freire canta este poema belíssimo!
Um poema, uma música e uma interpretação mágicas!
Abraço.
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