A revista Notícias Magazine (DN/JN), fala-nos, hoje, de casos de pessoas que não têm (ou tinham mas deixaram de ter) televisão.
São poucas, ainda, mas a verdade é que, como podemos constatar no excelente trabalho produzido por Catarina Pires e Rui Coutinho, essas pessoas, «de espécie em vias de extinção podem estar a transformar-se numa espécie em vias de expansão».
Assim seja, já que estamos a falar da televisão que temos, ou seja: deste poderoso veículo de desinformação organizada e de formatação de mentalidades ao serviço dos interesses do sistema capitalista dominante.
Para já, sublinha Catarina Pires, «uma coisa garantem os poucos que decidiram livrar-se do aparelho mágico: a caixa que mudou o mundo, também mudou a vida deles. No momento em que a puseram fora de casa».
São seis, os casos revelados na reportagem: três portugueses e três estrangeiros a viver em Portugal.
Eis quem são e o que dizem:
«Fátima Gysin, 56 anos, psiquiatra - livrou-se do aparelho de televisão há 15 anos».
«O que me levou a tomar a decisão de não ter tv foi o ganho de espaço e de liberdade»
«Giulia Pinna, 23 anos, italiana, estudante a fazer Erasmus em Portugal; não tem televisão desde que saiu de casa dos pais, assim como o companheiro, Philipp Stockle, 22 anos, alemão, estudante, que decidiu trasnformar a televisão (aparelho) em instalação artística».
«Foi a falta de tempo que me afastou da televisão. Como tenho pouco, não o desperdiço. Gosto de me sentar e conversar, em vez de estar parada a olhar para um ecrã».
«Stefano Savio, 30 anos, italiano, em Portugal há dois anos e meio, para onde veio estagiar na Cinemateca Nacional».
«Não digo que seja tempo que vou ganhar, simplesmente ocupo-o de maneira diferente: trabalho muito, saio à noite, converso com amigos, faço desporto. Coisas simples».
«Catarina Mateus, 30 anos, Formadora, não levou televisão para a casa nova, para onde se mudou há um ano e meio».
«Vivo cada vez melhor sem televisão (...) Acho que a maior parte dos programas televisivos são lixo e entre o lixo e as coisa boas que perdemos, é mais o lixo (...) Assim, somos nós que procuramos o que queremos: filmes, informação, há tanta coisa disponível»
«André Correia, 32 anos biólogo, não tem televisão há oito anos».
«Vi muita, muita televisão, aprendi imensas coisas, mas sobretudo perdi muito tempo. A certa altura, comecei a sentir que estava a roubar-me espaço e tempo e à medida que me fui interessando mais pelas coisas e lendo cada vez mais, apercebi-me de que a televisão, além de ser muito hipnotizante, é bastante perigosa (...) ao fim de pouco tempo(de ter deixado de ver televisão) senti-me completamente diferente e acho que só quem passa por isso é que percebe».
Diz Catarina Pires, citando estudos do John Watson Institute, do Colorado, EUA, que «a televisão pode ser considerada como uma droga, já que o seu consumo muitas vezes implica sintomas usados para o diagnóstico clínico da adição».
Sintomas como: «utilização como sedativo; visionamento indiscriminado; sensação de perda de contolo relativamente ao consumo; sensação de mal-estar consigo mesmo por consumo excessivo; incapacidade de deixar de ver; e sensação de incómodo quando se está privado de televisão» - e bastam quatro destes sintomas para definir uma droga...
Por seu lado, Manuel Pinto, investigador da Universidade do Minho, aponta «cinco prós e cinco contras» de consumir televisão:
Prós:
Seguir e acompanhar o que se passa no mundo;
Entreter-se com ficção e espectáculos de qualidade;
Descobrir mundos (naturais, sociais) diferentes do nosso;
Encontrar temas e tópicos úteis para as conversas e a interacção social;
Método fácil para adormecer.
Contras:
Enorme gastadora de tempo;
Poderoso instrumento de alienação;
Biombo para evitar a conversa;
«Cega-rega» que não deixa fazer silêncio;
Banalizadora da violência física e simbólica.
Ora, feito o balanço deste «prós» e destes «contras», teremos de concluir que, de facto, estamos a falar, não apenas de uma droga, mas de uma droga fatal - com a agravante de ser consumida, todos os dias, por milhares de milhões de pessoas, ou seja, por mais, muito, muito, muito mais gente do que qualquer outra droga.
12 comentários:
E que tem um enorme efeito para a reprodução do capitalismo. Sem o controlo actual da televisão (e não só) pelo capital, a sua legitimação ideológica seria bem mais difícil.
Um abraço camarada
Eu tenho televisão mas não gasto com ela mais de 5 ou 10 minutos diários com ela. é o tempo necessário para ver como vai a imbecilidade dos donos deste país.
Eu tenho televisão, embora raramente a ligue. Não quero deixar de a ter, não quero (jamais) viciar-me nela. É um utensílio capaz de hipnotizar, admito, e formatar consonantes com o sistema, e ainda por cima, (é curioso e absurdo) centraliza o espaço do nosso lar (ao centro da sala, onde passamos muito tempo...). Porém, é também informador (quando o é..), recreativo (quando calha, em qualidade...)... em suma: não me faz falta, de facto (há dias que não a ligo), mas , por vezes , abstrai-me da própria existência (quem não gosta de ver documentários sobre espécies selvagens, por exemplo?!)...
beijo!
A televisão desinforma, deforma é uma autêntica droga. Mas a mim faz-me falta, embora eu não a utilize muito. Faz- me um pouco de companhia e, às vezes, apetece-me descontrair vendo determinados programas. É também uma maneira de conversar sòzinha.
Um beijo.
Li este trabalho na revista e achei-o interessante, do ponto de vista, de nos interrogarmos sobre os malefícios de ver muita televisão o que, como sabemos são muitos.
Parabéns pelo post, na medida em que evidência claramente aquilo que eu penso sobre este mesmo assunto.
Um abraço.
A televisão é boa!gosto de ver acontecimentos em directo,que de outra maneira não conseguiria!
O que é mau é o sistema, que faz um aproveitamento dela, dando-lhe o aproveitamento que mais lhe convem!
Porque é que o poder político, permite, que um director de programas,ou de (informação)um pivot ou ainda um (jornalista)aufira um salário, que dobra o vencimento do primeiro ministro ou de PR? (e eles não se insurgem contra isso) porque será?
Nós sabemos,mas, a grande maioria, sabe?
Abraço
Sendo comunista, a televisão é um elemento imprescindível para entender a forma como o capital pretende formatar a opinião pública, para conter a emancipação da nossa vontade.
Abraço.
Boa!
Só pratico para ouvir (ponto um dos prós). Ou em caso de insónia (ponto 6 do prós)...
Um beijo grande.
Ainda vejo/oiço noutra situação: os debates em directo na AR. É quando alivio o fígado...
Outro beijo. Grande.
Ligo a televisão à hora do Telejornal,raramente assisto a debates políticos.
Desligo-a sempre irritada, por não ver as notícias que eles apesar de filmarem, ocultam.
Não tenho tempo, não gosto dos programas, a Tv aborrece-me. Se tiver perdido algum debate com interesse (!), vejo através da net.
Contudo, reconheço que a Tv é, uma companhia para os muitos milhões de idosos que vivem SÓS, sem família,sem amigos e sem dinheiro. Conheço uma velha senhora que diz: “Ouvir e ver alguém a falar dentro da minha casa, faz-me sentir acompanhada”, referindo-se à Tv.
Num país tão pobre como o nosso a Tv é, para uma faixa etária da sociedade, uma mais-valia.
Bjs,
GR
Tenho a pretensão/ilusão de que ainda sou capaz de escolher o que vejo... e que algumas vezes o faço bem... :-)
Abraço.
Sejamos sensatos e coerentes,esses aparelhos teêm botões e comandos,que dão para suspender ou desligar.
Como qualquer droga,a adição vai aumentado consoante a vontade do(a)(pessoa)organismo,pessoalmente vejo o que me interessa,não possuo se não os nossos (4)canais "programas".Ah,também tenho os "espanhóis",vivo junto à fronteira,Galiza.A televisão nos padões existentes,desinforma,intoxica e provoca a alienação,não é o que o capitalismo quer?.
Abraço
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