INFÂNCIA
Não minha mãe. Não era ali que estava.
Talvez noutra gaveta. Noutro quarto.
Talvez dentro de mim que me apertava
contra as paredes do teu sexo-parto.
A porta que entretanto atravessava
talhada no teu ventre de alabastro
abria-se fechava dilatava.
Agora sei: dali nunca mais parto.
Não minha mãe. Também não era a sala
nem nenhum dos retratos de família
nem a brisa que a vida já não tem.
Talvez a tua voz que ainda me fala...
... o meu berço enfeitado a buganvília...
Tenho tantas saudades, minha mãe!
José Carlos Ary dos Santos
4 comentários:
Que coisa bonita!
Abraço.
Impossível ficar indiferente a estas palavras. Belíssimo soneto...
Um beijo grande
João: o Cravo de Abril retribui ao Do Miradouro os votos de Feliz Natal e de um Ano Novo muito, muito melhor do que este ano velho tão cheio de coisas negativas.
Abraço.
samuel: o Zé Carlos gostava muito do Eugénio de Andrade: nota-se, não nota...
Um abraço.
Maria: um dos mais belos dos seus belos sonetos...
Um beijo grande.
Enviar um comentário