POEMA

CANÇÃO DA MÃE DE UM SOLDADO
DE PARTIDA PARA A BÓSNIA


É muito jovem, sem tempo ainda
de ser triste. Demora-se nos meus olhos
enquanto leva a maçã à boca.

Nenhuma fala obscura escurece a tarde,
a cabeleira solta é a sua bandeira;
o pés brancos, irmãos
da chuva de verão, anunciam a paz.

Suplico à estrela da manhã
que lhe guie os passos, agora que partiu;
que tenha em conta a sua ignorância,
não só da morte, também da vida.


Eugénio de Andrade
(«Os Lugares do Lume» - 1998)


(Com este poema termina o ciclo Eugénio de Andrade que, de há semanas a esta parte, o Cravo de Abril tem vindo a oferecer aos seus visitantes, e com o qual se pretendeu acompanhar - através de uma, inevitavelmente discutível, selecção de poemas - os caminhos poéticos percorridos, ao longo de cerca de sessenta anos, por um dos maiores nomes de sempre da Poesia portuguesa)

7 comentários:

samuel disse...

Ah!... Se dependesse da estrela da manhã e dos poetas...

Abraço.

svasconcelos disse...

E termina como começou: magistralmente!
obrigada, Fernando Samuel
beijos,

Justine disse...

Obrigada, amigo. Foi tão exaltante, este banho de beleza.
Mas amanhã lá volto eu à sua leitura, sempre.:))

Maria disse...

O ciclo Eugénio de Andrade pode ter terminado (por agora) aqui. Mas vai continuar na mesa de cabeceira, onde já mora há um tempo, porque o apetite foi aguçado...

Bom domingo.
Um beijo grande

GR disse...

Eugénio de Andrade tem a arte da harmonia das palavras.
Não é difícil escolher o seu melhor poema, todos eles são tão belos, tão necessários.

Bjs,

GR

Manuel Rodrigues disse...

Uma linda forma de homenagear este grande poeta: divulgar esta sua arte comprometida com a transformação do mundo. Num blog, também ele com a marca distintiva de uma revolução, a nossa revolução de Abril.Parabéns a ambos e boa escolha para o próximo poeta deste blog!
Um abraço

Fernando Samuel disse...

samuel: em todo o caso e bem vistas as coisas, algo depende da estrela da manhã e dos poetas...
Um abraço.

smvasconcelos: com EA só podia ser assim...
Um beijo.

Justine: inevitável...
Um beijo.

Maria: é para isso que servem (ou pretendem servir) estes ciclos...
Um beijo grande.

GR: da Poesia de EA podem fazer-se tantas antologias!...
Um beijo.

Manuel Rodrigues: o próximo... já cá está: é o Zé Carlos.
Um abraço.