OS TRABALHOS DA MÃO
Começo a dar-me conta: a mão
que escreve os versos
envelheceu. Deixou de amar as areias
das dunas, as tardes de chuva
miúda, o orvalho matinal
dos cardos. Prefere agora as sílabas
da sua aflição.
Sempre trabalhou mais que sua irmã,
um pouco mimada, um pouco
preguiçosa, mais bonita.
A si coube sempre
a tarefa mais dura: semear, colher,
coser, esfregar. Mas também
acariciar, é certo. A exigência,
o rigor, acabaram por fatigá-la.
O fim não pode tardar: oxalá
tenha em conta a sua nobreza.
Eugénio de Andrade
('Ofício de Paciência» - 1994)
7 comentários:
Belo!
Este Homem nasceu para tornar belas as coisas simples!
Abraço
Teve! A mão que escreve os versos permanecerá viva...
Abraço.
Este Homem... ai a Poesia deste Homem... às vezes arrepia!
Um beijo grande
Ah, sim, foi nobre o "fim" da mão deste Homem...Muito bonito!
beijos,
A mão fez que o poeta, não tivesse fim.
A poesia do Eugénio perdurará, oferecendo-nos momentos de grande felicidade.
Bjs,
GR
Ana Camarra: sem dúvida.
Um beijo.
poesianopopular: é verdad.
Um abraço.
samuel: para sempre.
Um abraço.
Maria: se arrepia!...
Um beijo grande.
smvasconcelos: um «fim» que... perdurará...
Um beijo.
GR: que saudades que eu tenho de ti e do Alex.
Um beijo e um abraço.
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