A CAÇA ÀS BRUXAS (6)

«A LISTA DOS VERMELHOS»
«O CASAL ROSENBERG»



Em Junho de 1950, três ex-agentes do FBI e um produtor de televisão elaboraram uma lista com 151 nomes de escritores, realizadores e actores «vermelhos» - tudo nomes «novos», isto é: que não constavam das listas da Comissão de MacCarthy.

Essa lista foi elaborada a partir dos arquivos do FBI e de uma busca minuciosa no jornal Daily Worker, órgão do Partido Comunista dos EUA.

«A lista dos vermelhos» foi enviada a todos os directores de estúdios cinematográficos, os quais, de imediato, suspenderam os 151 acusados, «até serem ouvidos pela Comissão» - após o que, se convencessem a Comissão de que estavam inocentes, voltariam a ser readmitidos»... - «convencer a Comissão» significava «confessar o crime, mostrar arrependimento e denunciar outras pessoas»...

É nesse mesmo ano de 1950 que tem início um processo que viria a ter enorme impacto em todo o mundo, iniciado com a prisão do «casal Rosenberg», sob a acusação de fazerem espionagem a favor da União Soviética.
O julgamento - que durou 9 meses - constituiu uma autêntica farsa: tratava-se, afinal, de o tribunal corroborar a decisão de «culpados» previamente decidida pela polícia...
E o tribunal assim fez: em 29 de Março de 1951, Julius e Ethel Rosenberg foram condenados à morte.
A principal testemunha de acusação era um soldado: David Greenglass, irmão de Ethel Rosenberg...

Contra a condenação, ergueu-se em todo o mundo (e nos própiros EUA), uma imensa vaga de protestos, designadamente envolvendo personalidades como Einstein e Jean Cocteau, Frida Kahlo e Dashiel Hammett, Pablo Picasso e Fritz Lang, Brecht e o Papa Pio XII.

Mas a decisão de executar Julius e Ethel Rosenberg estava tomada desde há muito: desde antes, mesmo, de eles serem presos e acusados...
Nos meses que antecederam a execução, milhares de pessoas manifestaram-se em dezenas de países, contra aquilo que Jean Paul Sarte classificou como um «linchamento que mancha de sangue toda uma nação».
E horas antes do «linchamento», Picasso, no jornal do PCF - L'Humanité - apelava à acentuação dos protestos: «As horas contam, os minutos contam. Não deixemos ocorrer este crime contra a humanidade».

Em 19 de Junho de 1953, Julius Rosenberg e Ethel Rosenberg foram executados na cadeira eléctrica, na prisão de Sing Sing.
Até minutos antes da execução contiuaram a negar a acusação de espionagem.

Em 2001, David Greenglass, cujo depoiamento fora decisivo para a condenação da irmã e do cunhado, viria a confessar que mentiu no julgamento:
«Eles ameaçaram prender a minha mulher e os meus filhos se eu não colaborasse. E eu não podia sacrificar a minha mulher e os meus filhos pela minha irmã».
E acrescentou: «mas eu não sabia que eles iam ser condenados à morte»...

14 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Comentários para quê? Está tudo muito bem explicado no post!!!!
Lembro-me muito bem do caso Rosenberg. Eu era muito nova mas sei que sofri muito.
Um beijo.

poesianopopular disse...

Nessa data, tinha eu 8 anos de idade, já li algumas coisas sobre o assunto, e o que mais me preocupa é que - de então para cá, as pessoas não aprenderam nada, ou têm memória curta, ou gostam de ser enganadas, ou ainda pior«eu não sou comunista», felismente que existem alguns que se interrogam (como foi possível), os tais que nunca deixaram de lutar antes, no durante, e no futuro.
Tens de escrever um livro com estas memóris vivas!
Obrigado abraço.

svasconcelos disse...

Desconhecia alguns pormenores deste caso, é chocante...
Que incursão impressionante, a tua!Obrigada.
bjs,

Anónimo disse...

Enquanto lia esta tua verdadeira lição de história dei comigo a pensar em Sacco e Vanzetti.

Campaniça

LGF Lizard disse...

Que eram espiões a soldo dos soviéticos, não há dúvidas nenhumas. Agora, não mereciam a morte. Prisão sim, tal como aconteceu aos outros espiões recrutados pelos soviéticos.
Já que o Cravo de Abril anda a falar sobre as caças às bruxas, que tal falar sobre o "julgamento dos médicos" na URSS? Ou sobre os julgamentos dos "velhos bolcheviques" na década de 30, na onda da Grande Purga estalinista? Vá lá homem, coragem! Vive em democracia, pode falar à vontade. O Partido já não manda fuzilar ninguém...

Antonio Lains Galamba disse...

mais um grande post! Vê-se, não apenas pelo que se aprende, mas também pela azia que causa a muitos dos «caçadores» que por aqui passam.
um abraço. e muito obrigado!

LGF Lizard disse...

E já que se fala em traição, que tal falar sobre os comunistas alemães entregues pelo NKVD aos nazis, após o Pacto de Não-Agressão germano-soviético de 1939?

Maria disse...

Porque é que me lembrei de Sacco e Vanzetti?
A história dos Rosenberg é conhecida em todos o Mundo. Digo eu...
O nome do delator e irmão de Ethel ninguém o conhece. Mas não estou a fazer a apologia do mártir, quero apenas enfatizar que 'dos répteis não reza a História'.
Que nojo...

Um beijo grande para ti, que não mereces ler certas coisas

Antuã disse...

Esta é a realidade da "democracia" americana por muito que custe a certos criminosos caçadores que por aqui passam de vez em quando.

Anónimo disse...

Deixa lá, a sujidade que aqui aparece torna mais nítida a claridade dos teus textos.
Dos porcos não reza a história.

Campaniça

Anónimo disse...

Delicioso, vir todas as manhãs ler o que escreves. Ouvi muito sobre esta história, mas nada tão claro como o que hoje li aqui.
Um abraço

Da Serra mais Alta

samuel disse...

O desgraçado do "irmão" delator foi condenado à "vida"...

Fernando Samuel disse...

Graciete Rietsch Monteiro Fernandes: também me lembro do caso e de como a imprensa portuguesa o tratou...
Um beijo.

poesianopopular: as más memórias nunca conseguirão apagar os factos.
Um abraço.

smvasconcelos: um beijo amigo.

Campaniça: falarei deles um dia destes.
Um beijo.

LGF Lizard: Pois.

Antonio Lains Galamba: abraço grande, amigão.

Maria: num post mais adiante farei uma referência a Sacco e Vanzetti.
Um beijo grande.

Antuã: uma «democracia» exemplar...
Um abraço.

campaniça: um beijo amigo.

Da Serra mais Alta: um abraço.

samuel: que, nestas circunstâncias, é uma condenação bem pior...
Um abraço.

LGF Lizard disse...

Bem, o mesmo de sempre. Quando se fala nos temas quentes, a malta vermelha imita as avestruzes: enfiam a cabeça na areia e fingem não ver. Não vêem, não sabem, não conhecem, não discutem, não lhes ensinaram, não pesquisam.... enfim.
Mas como felizmente a ideologia comunista já pertence ao passado e é apenas uma página negra na história da Humanidade (ao lado por exemplo escravatura, do holocausto), os autores deste blogue e os seus simpáticos comentadores podem escrever o que quiserem com toda a liberdade. Coisa que evidentemente não aconteceria se fosse a sua ideologia a mandar. Mas como não manda nem irá mandar....