A DIGNIDADE DE DASHIEL HAMMETT
Dashiel Hammett - o criador do policial negro - foi (é) um dos maiores escritores norte-americanos.
Quando MacCarthy mandou retirar de todas as bibliotecas públicas dos EUA «30 mil livros escritos por comunistas e simpatizantes», os livros de Hammett encontravam-se, naturalmente, entre os banidos...
Hammett era membro do Partido Comunista dos EUA e Presidente do Congresso dos Direitos Civis de Nova Iorque, organização comunista muito activa no apoio e na solidariedade às organizações a activistas de esquerda.
No processo da Caça às Bruxas, Dashiel Hammett foi submetido a três longos e cerrados interrogatórios: o primeiro, em Julho de 1951; os dois restantes, em Março de 1953.
Passou vários meses numa prisão de alta segurança, onde foi tratado como se fosse um terrível criminoso - e onde lhe foi atribuída a tarefa de limpar as retretes...
Sabia-se que, nesses interrogatórios, Hammett destroçara os inquisidores - entre eles o próprio MacCarthy - com a sua inabalável recusa em prestar declarações, fosse sobre o que fosse.
Mas só agora - com a publicação dos relatos integrais desses interrogatórios (Dashiel Hammett/Interrogatoires, Editions Allia, Paris, 2009) - se ficou a conhecer, com rigor, o que foram aquelas alucinantes sessões.
Estes «Interrogatoires» são um documento notável que nos mostra como, à demência persecutória, ameaçadora e repressiva das bestas, Hammett contrapôs a sua corajosa e serena dignidade.
Na verdade, Hammett recusou responder a tudo, inclusive a questões cujas respostas não o incriminariam mesmo na óptica dos fanáticos inquisidores.
Mais tarde, quando a sua companheira - Lillian Helmann, também militante comunista e também na «lista negra» - lhe perguntou por que não tinha respondido a essas coisas que eram do conhecimento público e que não o incriminariam, Dashiel Hammett respondeu simplesmente:
«Só sei que tinha que fazer o que fiz. Por uma questão de princípio. Mesmo que as consequências disso não fossem apenas a cadeia e implicassem a perda da própria vida, eu teria feito o mesmo».
10 comentários:
É por isso que eu sinto um enorme respeito e admiração por Dashiel Hammett como ser humano e nosso camarada. E sinto também uma alegria imensa por poder acrescentar este sentimento aquele que já sentia pelo extraordinário talento de D.H. enquanto escritor.
Campaniça
Grande escritor! Quem teve a sorte de se cruzar com a "colecção vampiro" e "a chave de vidro" pode fazer uma ideia...
Abraço.
É uma questão de coluna vertebral. Na vertical!
Um beijo grande
No domingo, uma missão de salvamento de uma das minhas gatas resultou num entorse de tornezelo terrivel. Desde aí tenho passado o tempo a lêr e a tentar aprender mais qualquer coisa (ok, confesso que p'lo meio tenho jogado um bocadinho de Mahjong Titans), porque acredito que devemos aprender, aprender sempre!
O Cravo de Abril é um dos meus "sítios" preferidos para aprender e apreender.
Normalmente passo por aqui a correr, sem tempo para te agradecer, mas nestes dias tenho vindo aqui com mais tempo, por isso não posso deixar de te agradecer o cuidado que tens em nos fazeres crescer, em nos acrescentares mais um bocadinho, todos os dias.
E não posso deixar também de te confessar que ando a surripiar estes textos d'A Caça às Bruxas e a guarda-los. Para que outros possam também aprender. Para que possas fazer com quem não tem estas modernices da net o que fazes connosco, todos os dias.
Um abraço Camarada
Querido camarada. Eu sempre gostei do Dashiel Hammett.Quando era mais nova lia muitos livros policiais, que não considero literatura menor,(quando são bons, claro). Lia principalmente a colecção Vampiro.
Mas agora que me deste a conhecer esta faceta tão nobre do escritor fico muito contente porque o meu sentido crítico não me enganou. Obrigada camarada pelo teu blog cuja leitura eu não dispenso.
Obrigada por aquilo que nos fazes conhecer...obrigada camarada...
Importantíssimas estas informações que nos tens dado a respeito da caça às bruxas nos EUA. Eu tenho aprendido muito. Obrigado.
Hammet trouxe o romance policial dos salões da aritocracia de campo inglesa para a realidade crua das ruas. A sua condição comunista foi, inegavelmente, uma poderosa influência na sua obra.
Dashiel Hammett foi tão corajoso quanto "Sam Spade". Li, há uns anos aa suas declarações na Comissão. Transformou-se em acusador, e era preciso muita coragem. À imagem de Cunhal quando foi julgado.
um abraço
Campaniça: Hammett, o escritor maior e o homem vertical.
Um beijo.
samuel: e O Falcão de Malta...
Um abraço.
Maria: a coluna vertebral é tão importante...
Um beijo grande.
beta: um beijo grande... e êxitos no trabalho...
Um beijo.
Graciete Rietsch Monteiro Fernandes: é bom quando constatamos essa junção entre o escritor maior e o homem digno.
Um beijo.
amigona avó e a neta princesa: um beijo.
Antuã: um abraço.
F.: um escritor iniciador e um homem digno.
Um abraço.
alex campos: a dignidade de Hammett perante os inquisidores é notável.
Um abraço.
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