POEMA

DOENÇA URGENTE


Sentes uma dor?
A dor aumenta?
Os médicos na América não são chamados,
não visitam ninguém. O teu médico
de família, se lhe pedires que te acuda,
responde-te que vás para o hospital.
Vais para o hospital.
Ninguém te conhece,
ninguém te ouve,
ninguém te pergunta nada.
Sentes uma dor?
Continuarás a senti-la
enquanto os exames, as análises, as conferências
(previamente verificado o valor dos teus
seguros de saúde e a tua conta bancária)
se sucedem.
A dor aumenta?
Gritas?
Acabas por calar-te?
Morres?
Os exames deram um diagnóstico correcto
que tecnicamente não poderia ter sido dado antes
- e a tua família não pode processar
ninguém pelo facto de teres morrido.
Apenas poderá mandar a conta à
companhia de seguros.


Jorge de Sena

8 comentários:

samuel disse...

Temos que ter um sistema de saúde assim em Portugal, rapidamente! Então não se está mesmo a ver?!!!

Abraço.

Maria disse...

É assim, continua a ser assim, exactamente, lá.
Por cá temos tanto a defender...

Um beijo grande

Graciete Rietsch disse...

Cá como lá. A saude pública para todos tem que ser exigida já! Beijos.

Justine disse...

Retrato do serviço de sáude nos EUA, que não tarda muito será também o nosso - isto se a gente deixar...

svasconcelos disse...

E a saúde!, um bem e direito elementar de qualquer povo.
beijos,

Fernando Samuel disse...

samuel: para lá caminhamos...
Um abraço.

Maria: se temos!...
Um beijo grande.

Graciete Rietsch Monteiro Fernandes: não tenho conseguido acesso à tua caixa de comentários. Vou continuar a tentar.
Um beijo.

Justine: é um objectivo da política de direita...
Um beijo.

smvasconcelos: é um dos tais direitos humanos que, para «eles», não conta.
Um beijo.

Ana Camarra disse...

Tão verdade que fico doente, eu doente crónica, sem médico de familia...

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: é a política de saúde a pôr-nos doentes...
Um beijo.